17 Dez 2016 23:41
A história de Hollywood é feita de muitos contrastes e contradições, como se fosse um infinito jogo de espelhos. Dito de outro modo: o cinema americano gosta de contemplar (por vezes, de forma extremamente cruel) os seus bastidores. Assim acontece no mais recente filme de Woody Allen, "Café Society". Assim aconteceu em 1950, nesse filme prodigioso que é "Sunset Boulevard".
Tudo começa, precisamente, em Sunset Boulevard, a mítica avenida de Hollywood que a mitologia associa, de imediato, às estrelas de cinema. O filme narra a história de uma dessas estrelas, gloriosa no seu tempo, mas agora incapaz de aceitar que a indústria mudou — ela é Norma Desmond; quando Joe Gillis, um argumentista em crise, a confronta com o seu apagamento, ela faz questão em dizer que não deixou de ser grande — os filmes é que se tornaram mais pequenos.
Norma Desmond é interpretada, justamente, por uma grande estrela do passado que, em 1950, já não estava na linha da frente — estamos a falar, claro, da gloriosa Gloria Swanson. O papel do argumentista é assumido por William Holden, pertencendo a realização a Billy Wilder, um mestre nascido na Europa que se transformaria num dos nomes fulcrais do classicismo americano.
Quando se faz qualquer lista, ou qualquer simples evocação, dos filmes que trataram o fim do cinema clássico, "Sunset Boulevard" é uma referência incontornável — aliás, importa recordar que o seu título português é bem revelador, ou seja, "Crepúsculo dos Deuses". Em 1993, o teatro recriou "Sunset Boulevard" num musical de Andrew Lloyd Webber — o papel de Norma Desmond pertenceu a Patti LuPone e, mais tarde, Glenn Close.