2 Ago 2017 0:20

É bem provável que a esmagadora maioria dos espectadores de cinema pense em Sam Shepard apenas como actor de cinema. E não há dúvida que, face ao seu desaparecimento — faleceu no dia 27 de Julho, aos 73 anos, na sua casa em Midway, Kentucky, na sequência de complicações devidas a esclerose lateral amiotrófica —, é forçoso recordar a sua carreira como intérprete em mais de meia centena de filmes e ainda várias produções para o pequeno ecrã.

Foi, aliás, como actor que Shepard teve um especialíssimo reconhecimento. Aconteceu graças ao filme "Os Eleitos", o célebre "The Right Stuff" (1983), com que Philip Kaufman evocou os primeiros capítulos da conquista do espaço pelos americanos — Shepard interpretava o lendário piloto Chuck Yeager e a sua composição valeu-lhe uma nomeação para o Oscar de melhor actor secundário.

Mas importa não esquecer que o mundo de Shepard, habitado por uma visão desencantada da América em que se cruzam nostalgia e tragédia, se reparte por mais duas fundamentais áreas criativas: ele foi também um notável argumentista de cinema e, acima de tudo, um dos mais brilhantes dramaturgos da sua geração.
A sua peça "Buried Child" valeu-lhe mesmo o prémio Pulitzer na categoria de drama, em 1979. Outra das suas peças mais famosas, "Fool for Love" ("Loucos por Amor"), foi transformada em filme por Robert Altman, em 1985, numa adaptação assinada pelo próprio Shepard que assumia também o papel principal, contacenando com Kim Basinger — estreou em Portugal com um título absolutamente disparatado: "Ligações Quentes".
Shepard escreveu argumentos para filmes tão importantes como "Zabriskie Point" (1970), de Michelangelo Antonioni, e "Paris Texas" (1984), de Wim Wenders. Além disso, foi também o argumentista dos dois títulos que realizou: "Ordem de Execução" (1988) e "Silent Tongue" (1993), este um enigmático "western" que ficaria como uma das últimas interpretações de River Phoenix.
 

Nos últimos anos, vimo-lo como actor em filmes como "Mata-os Suavemente" (2012), de Andrew Dominik, "Fuga" (2012), de Jeff Nichols, ou "Um Quente Agosto" (2013), de John Wells. Entre as suas últimas peças, inclui-se "Kicking a Dead Horse", um monólogo que estreou em 2007, no Abbey Theatre de Dublin, com Stephen Rea. Da sua produção literária, existem traduções portuguesas, por exemplo, da peça "Loucos por Amor" e da colectânea de contos "O Grande Sonho do Paraíso" (edições Relógio d’Água).

  • cinemaxeditor
  • 2 Ago 2017 0:20

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