Harry Dean Stanton numa imagem de

17 Set 2017 0:46

Nas memórias dos cinéfilos, ele é, antes do mais, essa figura atormentada que descobrimos a deambular no deserto, na abertura de "Paris, Texas" (1984), de Wim Wenders: Harry Dean Staton faleceu em Los Angeles, no dia 15 de Setembro — contava 91 anos.

Em 2014, muitos terão ficado surpreendidos quando o actor lançou o álbum "Partly Fiction", uma antologia de canções em parte ligadas ao documentário com o mesmo título, sobre a sua carreira, revelado dois anos antes. Aí cantava assim, por exemplo, o tema  "Tennessee Whiskey".



De facto, Harry Dean Stanton não tinha apenas formação nas artes da representação. Era também alguém que estudara música, tendo mesmo começado como baterista — aliás, ao longo das décadas, nunca extinguiu a sua banda, mantendo uma actividade regular de concertos. O certo é que, desde os primeiros anos da década de 50, passou a trabalhar em televisão e cinema, iniciando uma filmografia monumental que viria a ultrapassar as duas centenas de títulos.

Para várias gerações de espectadores, ele é, antes do mais, a figura que caminha, erraticamente, no começo de "Paris, Texas". Contracenando com Nastassjia Kinski, a sua interpretação pode simbolizar a sua maior virtude: a arte de manter a máxima contenção, sempre na procura da máxima intensidade emocional.



Raramente assumindo papéis principais, Harry Dean Stanton foi, de facto, um sofisticado secundário, um típico character actor que, como escreveu Anita Gates em "The New York Times", "se transformou numa estrela". Outro exemplo inesquecível das suas qualidades poderá ser a participação em "Alien: O Oitavo Passageiro" (1979), sempre lembrada através da cena em que é descoberto pelo monstro.



Na sua impressionante trajectória, foi dirigido várias vezes por cineastas como Francis Ford Coppola, por exemplo em "Do Fundo do Coração" (1981), e David Lynch, nomeadamente em duas derivações de "Twin Peaks": a longa-metragem "Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer" (1992) e o revival da série televisiva, já neste ano de 2017 [leia-se a evocação publicada no site de The Criterion Collection].

Entre os seus pequenos, mas essenciais, papéis encontramos participações em "O Presidiário" (1967), de Stuart Rosenberg, "Two-Lane Blacktop" (1971), de Monte Hellman, "A Última Tentação de Cristo" (1988), de Martin Scorsese, "The Green Mile/À Espera de um Milagre" (1999), de Frank Darabont, "Alpha Dog" (2006), de Nick Cassavetes, "Este é o Meu Lugar" (2011), de Paolo Sorrentino, e "Os Vingadores" (2012), de Joss Whedon.

Mesmo com tão longa e multifacetada carreira, nunca chegou às nomeações para os Oscars (nem sequer aos Globos de Ouro). Em 2000, o conjunto dos actores de "The Green Mile", em que estava incluído, foi nomeado pelo Screen Actors Guild para o prémio de melhor elenco.
  • cinemaxeditor
  • 17 Set 2017 0:46

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