18 Set 2020 4:14
Face ao novo ciclo dedicado a Akira Kurosawa (1910-1998), eis uma confirmação que dá gosto sublinhar: os grandes clássicos continuam a marcar presença no mercado cinematográfico português, a provar que faz sentido — cultural & comercial — considerar que a relação dos espectadores com os filmes envolve uma contínua actualização da(s) memória(s).
Como é dito no site da Medeia Filmes, trata-se de assinalar o centenário do nascimento de Kurosawa através da reposição de sete títulos da sua filmografia, todos em cópias restauradas, cinco deles nunca lançados no circuito comercial português.
Esta semana, a abrir o ciclo, surge "Os Sete Samurais" (1954), porventura o mais célebre filme de Kurosawa ou, pelo menos, aquele que teve um papel mais significativo na internacionalização do seu nome e, em boa verdade, no incremento da difusão do cinema japonês.
Com Toshiro Mifune no papel central, "Os Sete Samurais" evoca os tempos conturbados das lutas internas do Japão, no chamado período Sengoku, em finais do século XVI: a dimensão espectacular da mise en scène de Kurosawa conjuga-se com um sentimento trágico que, embora enraizado na cultura japonesa, não será abusivo designar como "shakespeareano".
Os restantes filmes surgirão, ao longo das próximas semanas, com o seguinte programa:
* Dia 24 setembro: YOJIMBO, O INVENCÍVEL (1961) — Outro filme de samurais, mais uma interpretação de Toshiro Mifune (que trabalhou 17 vezes com Kurosawa): uma reflexão desencantada, mas atravessada por subtil humor, sobre o heroísmo.
* Dia 1 Outubro: VIVER (1952) — Retrato de um velho senhor, empregado de escritório, a enfrentar os sinais de uma doença terminal: como se prova, Kurosawa não foi apenas um autor de épicos históricos, mas também um subtil observador da vida urbana.
* Dia 8 Outubro: A FORTALEZA ESCONDIDA (1958) — De novo com Toshiro Mifune no papel central, é muitas vezes apontado como uma espécie de síntese de espectáculo e tragédia que define a obra de Kurosawa; aqui, com a sua estreia a filmar em CinemaScope, faz mesmo sentido dizer que tudo é "maior que a vida".
* Dia 8 Outubro: DODESKADEN (1970) — Foi um filme com o seu quê de redentor na trajectória de Kurosawa, já que se sucedeu a um período psicologicamente atribulado, com vários anos sem filmar: para fazer a crónica amarga e doce das vidas de um bairro muito pobre utilizou pela primeira vez a película a cores.
* Dia 15 Outubro: O BARBA RUIVA (1965) — Nos arredores de Tóquio, no século XIX, um médico (Mifune) enfrenta os prós e contras de uma existência em que compaixão e ambição coexistem em permanente tensão. É mais um exemplo fundamental para compreeender a dimensão (melo)dramática do cinema de Kurosawa.
* Dia 15 de Outubro: O TRONO DE SANGUE (1957) — A par de "Os Sete Samurais", é um dos mais lendários filmes de Kurosawa, transpondo para o Japão feudal a intriga de "Macbeth", de William Shakespeare. A sua dimensão épica "antecipa" alguns dos títulos finais do cineasta como "Kagemusha" (1980) e "Ran" (1985).