15 Jul 2021 0:00
É bem provável que um filme como “Bergman Island” (programado na secção competitiva de Cannes) tenha nascido da intenção muito respeitável de criar uma ficção de homenagem ao mestre sueco Ingmar Bergman (1918-2007). Como? Colocando um casal — Vicky Krieps e Tim Roth — na lendária ilha de Fårö onde Bergman viveu e filmou muitas cenas dos seus filmes… Resta saber se o respeito pelo cineasta de “Persona” basta para construir um objecto de cinema minimamente consistente.
Em boa verdade, não basta. Sobretudo quando a curiosidade de mostrar os lugares que têm a marca de Bergman (e onde existem estruturas para a conservação e divulgação da sua obra) se vai esgotando numa espécie de “turismo cultural” simbolizado nas personagens, profissionais de cinema, a trabalhar em argumentos inspirados na herança de Bergman.
Dir-se-ia que a realizadora francesa Mia Hansen-Løve, também responsável pelo argumento, perdeu uma excelente oportunidade de fazer aquilo que poderia ser um documentário sobre Fårö, os seus lugares, o seu imaginário e, num certo sentido, a sua imaginação — “Bergman Island” não passa de um objecto banalmente decorativo e auto-complacente.