22 Out 2021 23:53
Para falarmos de Joseph Losey, temos de falar necessariamente da duplicidade da sua obra. Duplicidade geográfica, entenda-se: no começo da década de 1950, ele foi um dos profissionais visados pelas perseguições do maccartismo, procurando expurgar Hollywood da ameaça dos “vermelhos”. Dito de outro modo: Losey decidiu passar a viver na Europa, numa espécie de exílio artístico durante o qual, de facto, assinou alguns dos seus filmes mais admiráveis.
"O Criado" (1963) é normalmente citado como o título central do Losey europeu. E há muito boas razões para isso. Estamos perante uma invulgar teia dramática construída a partir da relação de um homem muito rico, de Londres, interpretado por James Fox, e o seu criado, por certo uma das composições mais extraordinárias da carreira de Dirk Bogarde — as clivagens sociais enredam-se com os fantasmas sexuais, fazendo de "O Criado" um dos momentos emblemáticos do cinema, não apenas britânico, mas europeu da década de 60. Sem esquecer que o argumento tem assinatura de Harold Pinter, várias vezes colaborador de Losey, nomeadamente em 1967, no filme que se intitula apenas "Acidente".
Losey foi um retratista de relações humanas assombradas pelos segredos mais íntimos e também pelas convulsões da história, sendo "Mr. Klein" (1976), o exemplo máximo da complexidade do seu cinema. E importa lembrar: Monsieur Klein e não Mister Klein, uma vez que tudo se passa em França, com a personagem de Robert Klein a deparar-se com a perversa e agressiva repressão dos judeus — é uma das mais notáveis interpretações de Alain Delon.
Curiosamente, e tal como nos EUA, a depuração formal do trabalho de Joseph Losey passou também pelas regras do drama mais ou menos policial, como podem exemplificar títulos como "Prisão Maior" (1960), e "Eva" (1962), este centrado numa das composições que consolidou Jeanne Moreau como uma das estrelas da produção europeia da época.