15 Abr 2022 12:57
"Salgueiro Maia – O Implicado", filme biográfico que estreou esta quinta-feira, é "uma tentativa de reposição de justiça" sobre "o único herói do século XX português", disse à agência Lusa António Sousa Duarte, biógrafo autor de "Salgueiro Maia – Um homem da Liberdade", ponto de partida para o filme de Sérgio Graciano.
"Tinha merecido que em vida se tivesse feito algo de simpático. Pouco se fez. (…) Quem designa os heróis não é o Presidente da República, nem o primeiro-ministro, nem os militares e os diplomatas. Ele é herói, porque o povo vê nele um herói, o povo da Esquerda, da Direita, o povo católico, o povo ateu, o povo gordo, o povo magro. São esses que o fizeram como herói", sublinhou António Sousa Duarte.
Com argumento de João Lacerda Matos, o filme é protagonizado por Tomás Alves, no papel do capitão de 29 anos que comandou a coluna militar saída da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Ocupou a Praça do Comércio e cercou o Quartel do Carmo, em Lisboa, levou à rendição do então presidente do Conselho, Marcello Caetano, e à definitiva queda da ditadura do Estado Novo.
"Nasceu um país diferente com o Salgueiro Maia", disse António Sousa Duarte.
Para o biógrafo, este é um filme para todos os públicos e haverá um plano de exibição que o inclua no contexto escolar.
"Os adolescentes têm de saber qual o preço da liberdade e da democracia, os jovens têm de saber o que é a vantagem de não ir à guerra, os rapazes e as raparigas que estão na faculdade têm de saber que era difícil o acesso à universidade", disse.
A pandemia afetou a produção, mas o adiamento levou a que o filme coincidisse com os 30 anos da morte de Salgueiro Maia e esteja incluído nas celebrações dos 50 anos da ‘Revolução dos Cravos’.
Para António Sousa Duarte, "hoje há mais conhecimento e fascínio por Maia do que havia há 15 anos". "Hoje há mais jovens interessados no Salgueiro Maia, no que ele fez, no que ele disse, na sua atitude ética. Há um certo fascínio pela ética comportamental, pela visão coerente, pela postura às vezes um bocadinho obstinada, mas rigorosa".
O biógrafo espera que as celebrações dos 50 anos da Revolução de Abril de 1974, que se estenderão até 2024, sirvam para que aqueles acontecimentos não caiam no esquecimento: "Para que daqui a 50 anos continuemos a ter a noção da importância do 25 de Abril, da importância de que estaremos num país com o máximo possível de princípios éticos, de são convivência e de respeito pela liberdade".
Sousa Duarte considera que também a crise militar de 25 de novembro de 1975 deve ser assinalada nas comemorações.
"O 25 de novembro não é uma correção ao 25 de Abril. É um passo na evolução democrática da revolução. O Otelo (Saraiva de Carvalho) só foi importante até ao 25 de Abril de 1974. O papel de Otelo cessa no dia 25, depois foi um chorrilho de asneiras. O 25 de novembro não é o começo da democracia, não é o centro de Direita moderado que vence a Esquerda patética do 25 de Abril. É um passo num certo momento do processo democrático português, é um passo normal, racional e lógico no percurso democrático".
Sousa Duarte disse estar a colaborar com a Sky Dreams e com o produtor José Francisco Gandarez para fazer três outros filmes nos mesmos moldes de "Salgueiro Maia – O Implicado" e de "Snu" (2019), de Patrícia Sequeira, daquela produtora, havendo já um argumento de João Lacerda de Matos sobre a vida de Mário Soares.
"Estamos a dar os primeiros passos, já falámos com a família do (Mário) Soares, queremos fazer um arco: a (relação) Snu/Sá Carneiro, Salgueiro Maia, Soares, Álvaro Cunhal e, talvez um dia mais à frente, Ramalho Eanes", disse.
Além de chegar aos cinemas, o filme de Sérgio Graciano dará ainda origem a uma série de quatro episódios a exibir ainda este ano na RTP.