16 Jun 2024
O filme “Percebes”, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, venceu o Prémio Cristal de Melhor-Curta-Metragem do Festival de Cinema de Animação de Annecy, França, anunciou a organização.
É a segunda vez que este prémio é atribuído ao cinema português. A dupla de cineastas sucede a Regina Pessoa, que recebeu o mesmo galardão em 2006 com “História trágica com final feliz”.
“Percebes”, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, é um documentário, animado em aguarela e digital, sobre o ciclo de vida e a apanha deste crustáceo no Algarve, mas o tema serve ainda de pretexto para que as duas autoras abordem questões sobre o turismo massificado, a relação dos habitantes locais com o ar e o desordenamento da costa portuguesa.
Anteriormente, as duas realizadoras assinaram em conjunto a premiada curta-metragem “Água Mole”, de 2017, sobre desertificação de uma aldeia, num processo de perda dos seus últimos habitantes.
O prémio foi atribuído a “Percebes”, produzido pela cooperativa BAP Animation, com coprodução francesa, na cerimónia de encerramento do festival de Annecy, que este ano teve Portugal como país convidado.
Um prémio desejado
“Este prémio é um dos mais desejados. Acho que isto só sublinha a força do cinema de animação e aquilo que tem vindo a ser nos últimos anos e isto dá-nos força”, sublinhou Alexandra Ramires à Lusa, no final da cerimónia de anúncio dos prémios.
“A liberdade criativa e o cinema autoral é aquilo que faz com que o nosso trabalho seja reconhecido da forma como é“, considerou Alexandra Ramires. E Laura Gonçalves acrescentou: “As nossas histórias que fazemos, que queremos fazer, têm um reflexo e as pessoas apreciam”.
A história dos percebes, uma iguaria da gastronomia portuguesa, permitiu-lhes falar de assuntos que as preocupam, “lembrando sempre a identidade que está por detrás delas”.
“E queremos poder trazer as vozes das pessoas que partilham este nosso pensamento e que nos permitem explorar artisticamente o que está a acontecer e poder comunicar com um público internacional”, afirmaram as realizadoras.
O júri do festival atribuiu-lhes o prémio pela autenticidade, “pela forma complexa de contar uma história, pelas imagens sensoriais e por um estilo de animação orgânica”.
O prémio “fecha o círculo da melhor forma, isto foi um momento único para nós. Este destaque todo, esta conversa em volta do cinema de animação português, e poder ter connosco a nossa equipa, ver muita gente reunida… Foi uma cereja no topo do bolo”, avaliou Alexandra Ramires.
Com cravos vermelhos colocados no palco – a flor também esteve na imagem gráfica do festival, desenhada por Regina Pessoa -, os júris de Annecy atribuíram o prémio de Melhor Longa-Metragem de Animação ao filme australiano “Memoir of a Snail”, de Adam Elliot, numa história sobre família, solidão e morte, filmada em animação de volumes.
“Une guitare à la mer”, de Sophie Roze, venceu o prémio de melhor obra para televisão, e “Carrotica”, de Daniel Sterlin-Altman recebeu o prémio de melhor filme de escola.
Entre os premiados da noite destacou-se ainda a longa-metragem “Flow”, de Gints Zilbalodis, numa produção da Letónia com a Bélgica e França, que conquistou o prémio do público, do júri e um galardão de distribuição.
Já exibido em Cannes, o filme é protagonizado por um gato, independente e solitário, que terá de aprender a viver com outros animais num barco, na sequência de umas cheias.
Num balanço da 48ª. edição, o festival de Annecy contabilizou um recorde de mais de 17.400 espectadores acreditados, entre público e profissionais, provenientes de 103 países.