Gene Hackman, o intenso ator que ganhou dois Óscares em mais de 60 anos de carreira, morreu em casa ao lado da mulher, a pianista Betsy Arakawa, e do cão, informou o gabinete do xerife de Santa Fé, no Novo México, na quinta-feira.

O gabinete do xerife do condado disse que os agentes tinham encontrado o ator de 95 anos e Arakawa, 64. A morte ocorreu na tarde de quinta-feira por volta das 13h45.

“Não se suspeita de crime, mas a causa exata da morte não foi determinada. A investigação está em curso pelo Gabinete do Xerife do Condado de Santa Fé”, afirmaram as autoridades no local.

Hackman, um antigo fuzileiro naval conhecido pela voz rouca, apareceu em mais de 80 filmes, bem como na televisão e no palco durante uma longa carreira que começou no início dos anos 1960.

Recebeu a primeira nomeação para um Óscar pelo papel de irmão do ladrão de bancos Clyde Barrow em “Bonnie and Clyde”, de 1967. Foi também nomeado para melhor ator secundário em 1971 por “I Never Sang for My Father”.

Foi o papel de Popeye Doyle, o detetive nova-iorquino que persegue traficantes internacionais de droga no thriller de William Friedkin “Os Incorruptíveis Contra a Droga”, que lhe garantiu o estrelato e o Óscar de melhor ator.

Ganhou também um Óscar de secundário em 1993, como um xerife no western de Clint Eastwood “Imperdoável”, e foi outra vez nomeado Óscar pelo papel como agente do FBI no drama histórico de 1988 “Mississippi em Chamas”.

Hackman podia aparecer no ecrã como ameaçador ou amigável, trabalhando com um rosto que descreveu ao New York Times em 1989 como o de “um trabalhador nas minas”.

As suas personagens eram por vezes cruas e violentas e iam de um treinador de basquetebol numa pequena cidade no filme de 1986 “Hoosiers” até ao arquirrival do Super-Homem, Lex Luthor.

Homem discreto, Gene Hackman deu poucas entrevistas à imprensa e conhecia pouco o mundo fechado de Hollywood. “Em Hollywood, tudo gira à volta do cinema: as conversas, as pessoas, a vida quotidiana. É totalmente narcisista. Acaba-se por esquecer a razão pela qual se está neste negócio”, disse numa entrevista a um jornal francês.

Reformou-se na casa dos 70 anos, dizendo só lhe ofereciam papéis de avôs. O seu último papel relevante foi na comédia de 2004 “Welcome to Mooseport”.

Vivendo nos arredores de Santa Fé, no Novo México, Hackman foi casado duas vezes e teve três filhos – Christopher, Elizabeth Jean e Leslie Anne, com a ex-mulher, Faye Maltese, que morreu em 2017. Casou com Arakawa em 1991.

Gene Hackman em cinco filmes

Os Incorruptíveis Contra a Droga (William Friedkin, 1971)

Vencedor do Óscar de Melhor Filme, este thriller, que se tornou um clássico do cinema americano, ofereceu a Gene Hackman a estatueta de Melhor Ator pelo papel do irascível e brutal detetive nova-iorquino Jimmy “Popeye” Doyle. Com o seu parceiro, interpretado por Roy Scheider, investiga as redes da French Connection, uma organização criminosa que importava de França a maior parte da heroína consumida nos Estados Unidos na altura.

O Espantalho (Jerry Schatzberg, 1973)

Road movie picaresco, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Conta a história de uma amizade entre dois vagabundos que viajam à boleia. Gene Hackman é Max, um duro acabado de sair da prisão que quer abrir uma estação de serviço, enquanto Al Pacino interpreta Lion, um antigo marinheiro que se safa a rir de situações embaraçosas. Foi um fracasso comercial, mas era o favorito de Hackman em toda a sua filmografia.

O Vigilante (Francis Ford Coppola, 1974)

Thriller de espionagem, também vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Gene Hackman é um especialista em escutas. Encarregado de seguir um casal e gravar as suas conversas, o homem introvertido descobre que correm um perigo de morte e vê-se confrontado com um dilema moral. As filmagens foram marcadas por uma relação tempestuosa entre Hackman e Coppola.

Mississippi em Chamas (Alan Parker, 1988)

Inspirado no assassinato de três activistas dos direitos civis no Mississipi, em 1964. Dois agentes do FBI, Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Defoe), são encarregados de levar a cabo a investigação que perturba o Ku Klux Klan. O papel valeu a Hackman outra nomeação para o Óscar de Melhor Ator.

Imperdoável (Clint Eastwood, 1992)

Western passado em 1880, numa pequena cidade do Wyoming. Gene Hackman é “Little Bill” Daggett, um xerife sonhador e também um assassino cruel e sádico. A personagem valeu-lhe um segundo Óscar, o de Melhor Ator Secundário, enquanto Clint Estwood ganhou a estatueta de Melhor Realizador.

  • CINEMAX - RTP c/ agências
  • 27 Fev 2025 10:51

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