joao lopes
4 Ago 2014 15:49
Não é possível descobrir um filme como "Belém", de Yuval Adler, sem o ligar de imediato às notícias sobre as tensões no Médio Oriente que nos chegam todos os dias (em particular através de perturbantes imagens televisivas). Dito de outro modo: esta história das relações entre um elemento dos serviços secretos israelitas (Tsahi Halevi) e um jovem palestiano que é seu informador (Shadi Mar’i) possui como trunfo primordial uma fortíssima actualidade.
Aliás, não podemos deixar de aproximar "Belém" de "Omar", de Hany Abu-Assad, outra estreia recente que lida com a mesma complexa conjuntura. "Belém" é uma produção proveniente de Israel; "Omar" vem da Palestina (foi o respectivo representante nas nomeações deste ano para o Oscar de melhor filme estrangeiro) — o certo é que ambos trabalham sobre linhas narrativas muito semelhantes.
Daí que seja importante, creio, sublinhar um factor central na dinâmica de "Belém". É um factor a que apetece chamar psicológico (mesmo que a palavra possa simplificar o que está em jogo), isto porque as relações entre os dois protagonistas são apresentadas de modo a excluir qualquer maniqueísmo "ideológico", centrando-se antes nas tensões de consciência que, paradoxalmente, unem e separam as personagens.
"Belém", tal como "Omar" já o fazia, demonstra que é possível — num certo sentido, é mesmo necessário — lidar com temas tão difíceis como as relações israelitas/palestinianos, tentando superar os efeitos quotidianos, porventura mais imediatistas, das manchetes noticiosas (mais ou menos apoiadas na brevidade das imagens televisivas). Estamos perante um cinema que não desiste de enfrentar as angústias do seu presente, repetindo a mesma questão: em que lugar podemos existir?