Willem Dafoe e Philip Seymour Hoffman: factos e enigmas da espionagem pós-11 de Setembro


joao lopes
8 Ago 2014 0:48

Não creio que seja possível vermos um filme como "O Homem Mais Procurado" sem sentirmos um perturbante vazio — sabemos, afinal, que o seu protagonista, Philip Seymour Hoffman, veio a falecer poucos meses depois da respectiva rodagem (a 2 de Fevereiro de 2014, contava 46 anos), vítima de uma overdose.

Repare-se: não se trata de procurar "equivalências" entre a vida vivida e a vida representada — elas cruzam-se de forma inevitável —, mas sim de reconhecer um poder terrível, afinal gratificante, que o cinema pode envolver. É o poder de intensificar a própria vida, a ponto de um filme ser um território conquistado ao espaço da morte.
Aliás, a personagem de Hoffman, Günther Bachmann — um elemento dos serviços secretos da Alemanha a braços com a investigação de um suspeito proveniente do mundo árabe — é alguém que existe, por assim dizer, como um sobrevivente de um tempo outro, em que os segredos das nações não envolviam o trauma central da espionagem moderna. A saber: a herança do 11 de Setembro.
Respeitando por inteiro a lógica do romance de John le Carré em que se inspira, "O Homem Mais Procurado" revisita essa herança a partir de um lugar muito concreto: a cidade de Hamburgo. Foi lá que Mohamed Atta planeou os atentados do 11 de Setembro contra o World Trade Centre, em Nova Iorque, e os serviços secretos vivem, naturalmente, obcecados pela necessidade de não deixar repetir qualquer situação semelhante — é um desejo de vida todos os instantes assombrado pelas marcas da morte.
Confirmando a singularidade do trajecto do realizador Anton Corbijn — ele que começou com "Control" (2007), sobre Ian Curtis e os Joy Division, dirigindo depois o thriller "O Americano" (2010), com George Clooney —, "O Homem Mais Procurado" é, afinal, um regresso exemplar à tradição dos grandes labirintos da espionagem, ainda e sempre sustentado por um elenco invulgar, incluindo Robin Wright, Willem Dafoe e Nina Hoss. Num Verão de tanta banalidade "explosiva", este é um dos filmes politicamente mais subtis — e também emocionalmente mais intensos.

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