22 Nov 2015 1:20
Uma das maravilhas do mais recente filme de Jean-Jacques Annaud, "A Hora do Lobo", é a sua dimensão realista. Para filmar os lobos da Mongólia, ele trabalhou com verdadeiros lobos, devidamente treinados ao longo de um processo de três anos. Mas a história do cinema contém também exemplos em que os mesmos animais existem sobretudo do lado da mitologia — é o caso exemplar do filme de Neil Jordan, datado de 1984, "A Companhia dos Lobos".
O filme baseia-se num conto de Angela Carter, também intitulado "A Companhia dos Lobos" — e não por acaso, coloca em cena os poderes da palavra literária: a protagonista é uma jovem que adormece depois de ler um conto fantástico, entrando num estado onírico em que, de facto, se diluem as fronteiras entre a vida vivida e a fantasia das fábulas.
Na história das técnicas de figuração de animais mais ou menos fantásticos, "A Companhia dos Lobos" ocupa um lugar importante, pelo modo como coloca em cena os lobos e, em particular, a transformação dos humanos em lobos. Nesta perspectiva, trata-se de uma produção que prossegue as inovações reveladas em 1981, no filme de John Landis, "Um Lobisomem Americano em Londres".
É bem verdade que Neil Jordan viria a ficar muito mais conhecido através de título posteriores, como "Jogo de Lágrimas" (1992) e "Entrevista com o Vampiro" (1994). De qualquer modo, "A Companhia dos Lobos" é um momento fulcral na sua evolução — um filme sobre a companhia dos sonhos e a intimidade dos lobos.