30 Jan 2025

“A Complete Unknown”, filme biográfico sobre Bob Dylan, nomeado para oito Óscares da academia norte-americana e interpretado por Timothée Chalamet, estreia esta semana nas salas de cinema nacionais. A vida deste desconhecido bastante famoso surge pela mão de James Mangold, que já tinha dedicado um filme a Johnny Cash no magnífico “Walk the Line”.

Em vez de abordar toda a carreira do Dylan, o realizador preferiu centrar-se na primeira metade dos anos 60, uma época curta, mas intensa e definidora.

O resultado é um filme sobre transições, mudanças e cortes com a tradição. Sobre uma altura em que a América perfeita e ordenada do pós-guerra e dos anos 50, com a vida nos subúrbios e as minorias bem comportadas, mantidas convenientemente à margem, vai dar lugar a outra América, primeiro com o movimento dos direitos civis, liderado por Martin Luther King, mais tarde com os protestos contra a guerra no Vietname. Uma época em que as contra culturas ganham uma expressão inédita e onde viria a aparecer o movimento hippie.

No início destas movimentações, um jovem Bob Dylan, de 19 anos, desembarca em Nova Iorque, no bairro artístico de Greenwich Village. Pretende conhecer os seus ídolos, Woody Guthrie – que está a morrer de uma doença neurodegenerativa – e Pete Seeger. Dois símbolos da música folk norte-americana, da geração que esteve mais próximo das raízes, do folclore. Que estiveram também envolvidos nas lutas no início do século XX – o movimento sindical, os direitos dos trabalhadores, no campo e nas cidades. Viveram a Grande Depressão, cantaram contra o fascismo e o nazismo.

Como na sociedade e na política, também na música folk algo vai mudar, uma mudança geracional que “A Complete Unknown” capta através do aparecimento de Dylan e da sua ascensão sofrida, mas rápida, ao primeiro plano da música popular nos Estados Unidos.

O último momento de transição em “A Complete Unknown” é também o culminar desta viagem a uma parte da vida de Dylan. O célebre concerto no Festival de Newport, em julho de 1965, onde Dylan vai cortar com a tradição acústica dos músicos folk e vai ligar as guitarras ao amplificador.

Foi uma surpresa, ouvir Bob Dylan a cantar música folk eletrificada, foi também um choque para os defensores da tradição acústica de Guthrie e Seger, mas acabou por lançar a carreira de Dylan para algo que hoje assume um papel quase lendário.

Biografias pop: um filão sem fim

As biografias de grandes estrelas da música popular conquistaram espaço em Hollywood, num cenário onde as histórias originais são escassas e proliferam as sequelas e as produções derivadas de franquias já estabelecidas. Ganharam fôlego desde o sucesso de “Bohemian Rhapsody”. O filme sobre a vida de Freddie Mercury abriu caminho para “Rocketman”, inspirado na trajetória de Elton John, seguido por produções sobre Aretha Franklin, Whitney Houston, Bob Marley e Elvis, realizado por Baz Luhrmann em 2022, com Austin Butler no papel principal. O mais recente, e talvez o mais excêntrico destes filmes, é “Better Man”, uma abordagem fantasiosa da vida de Robbie Williams, onde o cantor surge representado como um símio.

A lista de projetos em desenvolvimento parece interminável. Inclui uma série sobre Michael Jackson, atualmente a enfrentar desafios legais devido ao escândalo de pedofilia que envolveu o artista, bem como filmes sobre Boy George, ícone da pop britânica dos anos 80, e Bruce Springsteen. Sam Mendes tem um filme planeado sobre os Beatles, enquanto Martin Scorsese pretende levar a história de Frank Sinatra ao grande ecrã. Outras produções em fase de desenvolvimento centram-se nos Bee Gees, Janis Joplin, Grateful Dead e na lendária banda Kiss.

  • CINEMAX - RTP
  • 30 Jan 2025 13:40

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