25 Abr 2021 1:57
Em tempos de celebração da diversidade nos Óscares, valerá a pena não nos ficarmos pelos discursos panfletários (por vezes, pouco disponíveis para conhecer a diversidade da própria história) e lembrarmos alguns dados objectivos — estatísticos, se assim quisermos.
Pergunta de algibeira: quantas vezes uma mulher já ganhou na categoria de melhor realização? Todos ou quase todos os cinéfilos sabem a resposta. Ou seja, apenas uma vez — Kathryn Bigelow, com "Estado de Guerra" (ganhou também na categoria de melhor filme, já que era produtora).
Mas a singularidade da vitória de Bigelow conduz-nos a outra memória. A saber: quantas vezes uma mulher foi nomeada como realizadora? Pois bem, apenas sete vezes — sendo duas delas referentes aos Óscares deste ano.
Pode dizer-se que "Nomadland", o grande favorito dos Óscares referentes a 2020, e "Uma Miúda com Potencial", também nomeado na categoria de melhor filme, já fizeram história. Porquê? Porque as respectivas realizadoras, Chloé Zhao e Emerald Fennell, estão nomeadas na categoria de realização. Antes delas, em 92 edições dos prémios da Academia de Hollywood, só mais cinco mulheres o conseguiram — a primeira vez aconteceu com um filme de 1976, "Pasqualino das Sete Beldades", da italiana Lina Wermüller; Enzo Jannacci era o compositor, e também a voz, da banda sonora.
Comédia amarga sobre as memórias da Segunda Guerra Mundial, convenhamos que "Pasqualino das Sete Beldades" não tem um lugar de grande destaque na história do cinema italiano. O certo é que a nomeação de Lina Wertmüller correspondeu a uma estreia simbólica do feminino naquela que foi a 49ª cerimónia dos Oscars. Seria preciso esperar pelos prémios referentes a 1993 para encontrarmos de novo uma mulher na categoria de realização — a honra coube a Jane Campion, com "O Piano", filme cujo emblema mais universal foi a música de Michael Nyman.
Dez anos mais tarde, seria a vez de Sophia Coppola ser nomeada como realizadora, e logo com a sua longa-metragem de estreia: "As Virgens Suicidas" — não ganhou, mas de qualquer modo o filme valeu-lhe um Óscar na categoria de argumento original. Quem realmente ganhou foi Kathryn Bigelow, até agora a única mulher distinguida com o Óscar de realização: aconteceu com uma produção de 2009, "The Hurt Locker" / "Estado de Guerra". E como disse Barbra Streisand ao abrir o envelope, “tinha chegado o tempo”, o tempo de uma mulher arrebatar o Oscar de realização.
Antes das nomeadas deste ano, Greta Gerwig foi a quinta mulher a surgir como candidata a melhor realização, assinando um filme que foi um sucesso de estima e também de bilheteiras — "Lady Bird" (2017) era um drama, quase comédia, sobre a aprendizagem da vida no feminino; na banda sonora, uma canção muito popular de Alanis Morrisette, Hand in My Pocket", transfigurou-se também numa espécie de emblema sentimental do próprio filme.