30 Dez 2024
Os consagrados e eternos Maria Bethânia, Fernando Tordo, Bee Gees e Eurythmics surgem ao lado de músicos mais novos e muito populares como Zaho de Sagazan, Lady Gaga, Tame Impala, Trent Reznor e Atticus Ross.
É uma seleção onde cabem canções da música portuguesa, brasileira, cabo-verdiana… e temas clássicos que se escutam muito bem em determinadas cenas dos filmes que escolhemos.
IANSÃ, MARIA BETHÂNIA
“Sem Coração”, Tião e Nara Normande
Um dos filmes brasileiros mais bonitos deste ano e uma das cenas emocionais entre mãe e filha é pontuada por uma canção clássica. Neste retrato da adolescência, no verão de 1990, na região de Alagoas, no nordeste brasileiro, ecoam as palavras de uma canção de outro tempo: “Iansã” escrita por Caetano Veloso e Gilberto Gil, do álbum “Drama” de 1972, na voz de Maria Betânia…
MANGA D’TERRA, ACÁCIA MAIOR E ELIANA ROSA
“Manga d’Terra”, Basil da Cunha
As sonoridades tropicais prolongam-se na Reboleira num filme de Basil da Cunha onde Eliana Rosa, atriz e cantora, surge numa música dos Acácia Maior. “Manga d’Terra” é o regresso do realizador ao bairro onde tem filmado colocando em grande plano as mulheres que nele vivem para contar a história de uma jovem que sonha ser cantora, num contexto machista e em permanente caos provocados pelas rusgas policiais. É neste ambiente que sobressai a voz de Eliana Rosa.
A TOURADA, FERNANDO TORDO
“Revolução (sem) Sangue”, Rui Pedro Sousa
Nos cinquenta anos do 25 de abril, “Revolução (sem) Sangue” recordou as cinco vitimas baleadas junto à sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa. O filme de Rui Pedro Sousa evoca os momentos da vida dos que tiveram um destino trágico, no dia da revolução dos cravos. Lucas Dutra, Rafael Paes, Diogo Fernandes, Manuel Nabais, são alguns dos nomes do elenco. A que se junta Ana Bacalhau, como a cantora de um bar, onde um dos jovens trabalha e que reinterpreta o tema “A Tourada” de Fernando Tordo, cantado no festival da canção ainda antes do 25 de abril.
O QUARTO (FADO PAGEM), CARMINHO
“Pobres Criaturas”, Yorgos Lanthimos
Um fado de Carminho, cantado no beiral de uma janela de Lisboa, escutou-se nos cinemas de todo o mundo. A carreira de sucesso de “Pobres Criaturas” do realizador grego Yorgos Lanthimos, começou com o Leão de Ouro no Festival de Veneza ainda em 2023. Emma Stone dá vida a uma jovem que resulta de uma experiência cientifica, tal como Frankenstein e, através da sua sede de descoberta, partimos numa viagem com passagem por Lisboa. É aqui que se escuta o fado e se descobrem possibilidades para a autodeterminação no feminino.
SWEET DREAMS, EURYTHMICS
“Histórias de Bondade”, Yorgos Lanthimos
Nesta seleção musical coexistem dois temas que integram filmes realizados pelo cineasta grego Yorghos Lanthimos. “Sweet Dreams”, um dos mais populares temas dos Eurythmics, de Annie Lennox, é a porta de entrada para “Histórias de Bondade”, três narrativas partilhadas pelo mesmo elenco. O humor negro de Lanthimos numa fábula que desenvolve a ideia de manipulação e materializa a frase da canção – alguns querem usar-te, outros querem abusar de ti.
JOKER, LADY GAGA
“Joker – Loucura a Dois”, Todd Phillips
Lady Gaga chegou ao universo de “Joker” interpretando Harleen Quinzel e adensando a tonalidade negra da saga através da música. É dela a voz de inconformidade e contestação, de quem não se rende e exige revolta. E é a presença de Lady Gaga que permite arriscar no género musical. A banda sonora está recheada de temas populares revisitados pela compositora islandesa Hildur Guðnadóttir. Vários foram reinterpretados por Lady Gaga, como “Joker”, cuja versão original de 1968 pertence a Shirley Bassey.
EL MAL, KARLA SOFÍA GASCÓN E ZOE SALDAÑA
“Emilia Pérez”, Jacques Audiard
Na playlist há escolhas que fazemos a partir de filmes musicais – além de “Joker – Loucura a Dois”, há uma canção que escolhemos nas cenas de “Emilia Pérez”, o musical extravagante de Jacques Audiard. É uma espécie de coro que anuncia o futuro de emancipação das mulheres mexicanas, inspiradas por Emilia Pérez, mulher que já foi um temido criminoso. O tema “El Mal” cantado por Karla Sofía Gascón e Zoe Saldanha, fala da corrupção que reina no México e do universo dos crimes que ficam por punir. Com este filme, o cinema faz-nos acreditar que o mundo pode ser diferente.
COMPRESS / REPRESS, TRENT REZNOR E ATTICUS ROSS
“Challengers”, Luca Guadagnino
O jogo de ténis filmado por Luca Guadagnino em “Challengers” é emoldurado por uma paisagem techno sonora que define o pulsar da narrativa, com Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor interpretando um triângulo amoroso. O tema “Compress Repress” é um exemplo de como a música eletrónica e os sintetizadores de Trent Reznor e Atticus Ross acompanham as jogadas dos protagonistas, de forma certeira, eficaz e dinâmica.
LET IT HAPPEN, TAME IMPALA
“Estamos no Ar”, Diogo Costa Amarante
A banda sonora de um filme português, “Estamos no Ar”, a primeira longa-metragem de Diogo Costa Amarante, inspira a próxima escolha. Carloto Cotta e Sandra Faleiro são mãe e filho nesta comédia dramática, de personagens perdidas que se isolam nas suas emoções e fantasias. “Let it Happen”, dos Tame Impala, foi uma das músicas escolhidas pelo ator protagonista na preparação deste trabalho e acabou por ser incluída pelo realizador na banda sonora do filme
TRADEGY, BEE GEES
“Beetlejuice Beetlejuice”, Tim Burton
Uma das comédias do ano é “Bettlejuice Beetlejuice” de Tim Burton, a evocar o universo mórbido dos fantasmas divertidos, num filme com espírito dos anos oitenta. Os fantasmas voltam a divertir-se com banda sonora do tempo do primeiro filme. É a marca de Tim Burton a testar novos públicos. Revivalista, mas descomplexada, “Tragedy” dos Bee Gees provoca o sorriso das plateias mais velhas e pode convidar os mais jovens a embalar no ritmo disco sound.
EXTRA MODERN LOVE, ZAHO DE SAGAZAN
Homenagem a Greta Gerwig, no Festival de Cannes
A mais recente revelação da música indie pop francesa merece uma entrada extra na playlist do ano. “Modern Love” de David Bowie foi interpretado pela jovem Zaho de Sagazan na cerimónia de abertura do Festival de Cannes. Uma homenagem a Greta Gerwig, realizadora que presidiu ao júri do festival. Foi o momento para lembrar um dos filmes de Gerwig, enquanto atriz, “Frances Ha”, no qual uma jovem aspirante a bailarina corria ao som da música de David Bowie em busca do sonho e da fantasia, como propõe o cinema.