18 Mai 2017 0:57
O Festival de Cannes voltou a falhar na sessão inaugural, à semelhança do que sucedeu nas edições anteriores com as exbições de "Café Society", de Woody Allen (2016), e "De Cabeça Erguida", de Emmanuelle Bercot (2016).
A noite de gala foi um bom momento para o cinema francês, com a presença de Marion Cotillard, Charlotte
Gainsbourg, Louis Garrel e Matieu Amaric, mas o filme "Les Fantômes d’ Ismaël" foi acolhido com uma indiferença rara por arte da imprensa e da crítica.
A proposta narativa de Desplechin é bastante ambiciosa, desenvolvendo três situações: o trauma do realizador Ismaël (Mathieu Amalric) devido ao facto de ter sido abandonado sem aviso pela sua esposa (Marion Cotillard); o impacto do seu regresso, após uma ausência de 21 anos, na relação entre Ismaël e Sylvia (Charlotte Gainsbourg); e o processo criativo do cineasta que procurar concluir um novo filme.
A turbulenta vida de Ismaël reflete-se nas suas relações e no argumento de um filme que é uma espécie de biografia do seu irmão
diplomata e/ou espião (Louis Garrel). Desplechin tinha uma história surpreendente – o triângulo romântico que enfrenta uma assombração, a muher desaparecida que regressa reclamando para si o marido – e perdeu o rumo construindo uma ficção paralela, filme dentro do filme, que ele concluiu de foma apressada e desajeitada.
É um novelo algo surreal que não serve verdadeiramente ninguém: nada acrescenta ao percurso relevante dos seus ótimos atores e expõe em demasia Desplechin neste regresso à seleção oficial, após de ter sido ‘relegado’ para a Quinzena dos Realizadores, em 2015, com "Três Recordações da Minha Juventude", que lhe valeu o César de melhor realizador.
O Festival devolveu a Desplechin o palco principal mas não ganhou nada em exibir este drama na sessão de abertura da 70ª edição. Um equívoco adensado pela existência de duas versões do filme (a emocional e mental, na descrição do realizador), com durações diferentes. Em Cannes viu-se a mais curta (emocional), enquanto que a versão do realizador, mais longa, estreou numa sala de Paris.