13 Set 2023
O restauro do filme “As Ilhas Encantadas”, realizado em 1965 por Carlos Villardebó e produzido por António da Cunha Telles, terá estreia mundial no festival Lumière, em Lyon, que decorrerá entre 14 e 22 de outubro, anunciou a Cinemateca Portuguesa.
Esta nova cópia será apresentada, em Portugal, no início de 2024.
A digitalização e o restauro de “As Ilhas Encantadas” decorreram no âmbito do projeto FILMar, desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa com o apoio de um programa europeu dedicado à preservação, digitalização e difusão de património fílmico relacionado com o mar.
Lyon, a cidade dos Lumière, um dos lugares onde o cinema foi inventado, é também a sede, desde 2009, do festival que leva o nome dos fundadores da sétima arte, um dos mais importantes na celebração do trabalho de preservação, restauro e digitalização do património cinematográfico.
Estreado Lisboa a 15 março 1965, no Teatro Tivoli, e em Paris, no Cinema V.O., a 17 junho 1966, “As Ilhas Encantadas” é a única longa-metragem de Carlos Villardebó, realizador luso-francês que em 1961 havia ganho uma Palma de Ouro no Festival de Cannes com a curta “La Petite Cuillère”, é também uma oportunidade de redescobrir a faceta da Amália Rodrigues atriz, num registo distinto e na companhia do francês Pierre Clémenti, então no início de um percurso que o levaria a ser um símbolo da contracultura dos anos 60.
Adapta o romance de Herman Melville publicado pela primeira vez em 1854. Rodado na Madeira e produzido por António da Cunha Telles, é o relato, na terceira pessoa, de uma aventura marítima oitocentista, narrado pelo ator Pierre Vaneck que interpreta o papel de Manuel Abrantes, o imediato do navio explorador, o “Gazela”. Durante a exploração de um arquipélago vulcânico pouco conhecido são descobertos dois náufragos: a jovem Hunila (Amália Rodrigues), e um marinheiro francês (Pierre Clémenti), cuja impossibilidade de comunicação, por falarem línguas distintas, sublinha a dimensão platónica desta relação. O seu salvamento significou, porém, a interrupção de uma história de amor improvável.
Amália Rodrigues afasta-se da sua imagem pública para criar, quase sem palavras, uma personagem assente no gesto e na presença física e visual.
Foi essa nova Amália, surgida a partir das tensões a que o filme não escapou, que encontrou a objetiva de Augusto Cabrita, presente nos bastidores da rodagem.
Em julho de 2023, o FILMar organizou uma exposição a partir das imagens dessa rodagem, assinadas por Augusto Cabrita, em coprodução com o festival Curtas de Vila do Conde. A exposição será apresentada em Lisboa, em fevereiro de 2024.
Amália Rodrigues considerou sempre ser a sua melhor interpretação no cinema: “Andava toda divertida, a pensar que ia sair dali uma grande fita. Estava cheia de fé no filme, e não me arrependo de o ter feito. Quanto a mim, é a minha melhor interpretação no cinema. Em Portugal, o filme sofreu por minha causa. Por uma espécie de má vontade contra mim. Como era um filme artístico, criticaram logo.”
O projeto FILMar, desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, com o apoio do programa Cultura, operacionalizado pela Direção Geral do Património Cultural, no âmbito do Mecanismo Financeiro Europeu EEAGrants 2020-2024, dedica-se a inventariar, preservar, digitalizar e promover o património fílmico relacionado com o mar. É desenvolvido em parceria com o Norsk Film Institutt, na Noruega, um dos três países doadores, com a Islândia e o Liechtenstein.
Tem por objetivo digitalizar 10 mil minutos de filmes até abril 2024.
Os resultados deste trabalho têm sido apresentados com regularidade em sessões dos principais festivais nacionais, bem como em colaboração com projetos de exibição cinematográfica descentralizados.
No âmbito do FILMar têm sido digitalizados títulos pouco conhecidos do cinema português, ou de autores cuja expressão não acompanha a sua importância na história da produção de cinema em Portugal. Mais recentemente, foram digitalizados filmes de António Campos, António de Macedo, Augusto Cabrita, Manuel Faria de Almeida e Raquel Soeiro de Brito, bem como de Maurice Mariaud e Solveig Nordlund.