24 Mai 2023 11:55
O realizador espanhol Victor Erice causou sensação em Cannes com o seu último filme “Cerrar los Ojos”, que revela algumas das suas “feridas”, mas foi exibido sem a sua presença.
Apresentado fora de competição, esta investigação sobre o desaparecimento de um actor durante a rodagem de um filme suscitou emoções e teve uma recepção entusiástica, com a crítica a lamentar o facto de não ter concorrido à Palma de Ouro.
O filme marca o regresso do cineasta iconoclasta de 82 anos – com apenas quatro longas-metragens em 50 anos – que não era exibido em Cannes há 30 anos. “É o Terrence Malick espanhol”, elogiou o delegado geral do festival, Thierry Frémaux, referindo-se ao seu ritmo de produção.
Na sessão de segunda-feira à noite, estiveram presentes muitos curiosos, mas também o japonês Hirokazu Kore-Eda (em competição com “Monster”) e o mexicano Amat Escalante (que apresentou “Perdidos en la noche”).
A ausência do realizador deve-se a “razões pessoais, pelo menos foi o que nos disseram”, declarou à AFP na terça-feira a actriz Ana Torrent, revelada aos seis anos pelo cineasta e conhecida pelo seu papel em “Cria Cuervos”.
O filme mais pessoal de Erice
Ao contrário de “O Espírito da Colmeia”, apresentado em Cannes em 1973, este novo filme está cheio de diálogos.
Conta a história do desaparecimento de um actor (José Coronado) e da busca que é reactivada 22 anos depois pelo seu amigo e, ao mesmo tempo, último realizador que trabalhou com ele (Manolo Solo).
“É talvez o seu filme mais pessoal”, disse Manolo Solo à AFP. A ideia de filmar com Erice foi intimidante, admite o actor, que se tornou conhecido em filmes como “O Bom Patrão” (2021), que ganhou seis Goyas.
“Senti-me intimidado por esta personagem enorme e a comunicação não foi totalmente fluida. Mas, ao mesmo tempo, senti que era uma dádiva”, acrescenta.
Victor Erice é admirado em Espanha e no estrangeiro, premiado em festivais como San Sebastian e Cannes, e o seu discurso visual influenciou gerações de cineastas. É o único espanhol na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos do British Film Institute, divulgada no início deste ano.
“Tentei adaptar-me à sua forma de trabalhar. No início, fazia muitas perguntas. Até que ele disse: ‘Estás a dar demasiadas voltas à cabeça. Entrega-te ao mistério”, explica o ator.
Poucos detalhes tinham sido divulgados sobre o filme, que os actores descobriram na segunda-feira à noite.
Ana Torrent admite que tinha uma vantagem sobre os outros actores: já tinha trabalhado com Victor Erice.
“A personagem foi como que feita para mim. Ele conhece uma parte de mim que eu queria revelar”, revela. “Ficámos ambos muito surpreendidos durante as filmagens. Estávamos a olhar um para o outro, havia muito amor”.
texto, refere o silêncio da organização quanto à hipótese da entrada de “Cerrar
los Ojos” na competição.
pela sociedade francesa de realizadores, uma distinção que, no passado,
“foi oferecida a consagrados, como Francis Ford Coppola”, afirma Erice.Perante
a necessidade de avaliar esta opção e o interesse de outros
festivais como Veneza e Locarno, o realizador espanhol não obteve resposta..