26 Dez 2024
Uma casa, um lar, um espaço de crescimento e de memórias. O filme “Aqui” acompanha os acontecimentos, desde o passado até o futuro, de gerações de famílias. Tudo passa por uma sala e pelo que se vê através da janela. O realizador Robert Zemeckis escreveu o argumento com Eric Roth:
É um bloco de duas décadas que se passam numa única divisão e que o espectadores têm a oportunidade de ver. Seguimos as personagens, desde que são crianças até o seu envelhecimento. Enquanto essa história se desenrola, há outras histórias que estão a acontecer no mesmo local da Terra, às quais temos acesso. Algumas passam-se séculos antes e outras, séculos depois.
Trinta anos depois de “Forrest Gump”, Robert Zemeckis reúne-se com Eric Roth, o argumentista, e com as estrelas desse filme, Tom Hanks e Robin Wright:
Tento sempre trabalhar com pessoas muito talentosas e com quem gosto de trabalhar, é isso que eu faço. Por isso, sempre quis fazer outro filme com o Tom, com a Robin e com o Eric, porque gosto de trabalhar com eles. Sempre que temos a oportunidade de trabalhar com pessoas com quem gostamos de trabalhar e que são incrivelmente talentosas, tentamos fazê-lo. Foi uma alegria termos feito de novo um filme juntos.
Em vez de escolher diferentes atores para as várias idades, Zemeckis recorre à inteligência artificial para acompanhar o envelhecimento e modificar as aparências das personagens ao longo do filme:
Se vamos fazer uma saga, ou um drama, em que uma personagem atravessa toda a sua vida, a forma de o fazer antigamente era utilizar atores de diferentes idades e o público tinha de dar o salto para os ver mudar à medida que envelheciam.
Atualmente, dispomos de uma ferramenta que permita a um grande ator, como Tom Hanks, ou a uma atriz, como Robin Wright, interpretarem as respetivas personagens enquanto jovens ou mais velhos.
Quando se está a fazer uma história tão complicada como esta, em que há janelas de tempo que se sobrepõem umas às outras, seria muito difícil ter vários atores a interpretarem as mesmas personagens. Como tal, creio que fizemos o filme na época certa.
“Aqui” é moldado ao jeito de Robert Zemeckis, revelador do interesse do cineasta norte-americano pela experimentação visual e técnica e po estar sempre um passo à frente:
Gosto sempre de moldar a história à minha maneira. Moldar a arte do cinema de uma forma que nunca vi antes e acho isso sempre agradável. É arriscado, é assustador, mas é muito divertido.
Penso que esta história se presta a ser muito experimental nesse sentido e, de facto, nunca vi um filme como este.
O tempo passa, pessoas chegam e partem, coisas diferentes acontecem, mas a geografia do espaço nunca muda. A sala da casa é o centro do filme. “Aqui” passa-se num único local e foi filmado a partir de um único ângulo de câmara.
Todas as cenas tinham de se encaixar no mesmo enquadramento, o que obrigou Robert Zemeckis a fazer vários ensaios e testes com os atores e com a equipa técnica:
Fizemos muitos ensaios soltos, construímos um cenário rudimentar e colocámos lá uma câmara de vídeo. Muito antes de começarmos a filmar, os atores e eu vadiávamos por este pequeno ambiente e trabalhávamos as cenas até chegarmos a um ponto em que todos sentíamos que isto é bom, esta pessoa vai estar aqui e esta personagem vai estar ali.
Fizemos muito do que eu chamaria um ensaio de teatro de caixa negra e, depois, quando estávamos a filmar, aperfeiçoávamos o plano a partir daí. Por isso, tínhamos uma excelente ideia do que íamos fazer antes de entrar no set de filmagens.
Para as filmagens foi necessário desenvolver uma lente específica. O grande desafio para Robert Zemeckis foi fazer um filme usando o conceito de câmara fixa e escolher o ângulo correto:
O maior desafio não foi a realização, mas sim a tomada de todas as decisões com antecedência, porque sabíamos que tudo tinha de funcionar na perfeição dentro daquela tomada de vista única.
Decidir qual seria a lente, por exemplo, e depois, à altura certa da câmara, e exatamente em que parte da sala iria acomodar todas as cenas. Essas foram as grandes decisões e os grandes desafios. Mas foi tudo resolvido com antecedência. As filmagens decorreram de forma tranquila.
Contente com o resultado, agradecido por ter feito “Aqui”, Robert Zemeckis espera que o público possa ver o filme nas suas salas de cinema e se possa identificar com a história e com as personagens:
A coisa que mais me entusiasma é o mesmo pela qual sou mais grato, o facto de ter podido fazer um filme que não se parece com nada que tenha visto antes. Estou realmente entusiasmado por me ter sido dada essa oportunidade de o fazer.
Penso que o nosso trabalho enquanto realizadores é apresenta histórias com as quais o público se possa identificar e que possa levar isso consigo.
Quando veem uma personagem num filme e se identificam com a história e isso pode ressoar com eles de uma forma emocional, acho que é isso que os filmes devem fazer. E só se obtém a totalidade do que este filme mostra se o virmos numa sala de cinema, num grande ecrã.
“Aqui” é um filme de alegrias e tristezas sobre viagens no tempo. O regresso ao cinema de quem fez “Forrest Gump”. Estreia esta semana nas salas portuguesas.