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As famílias e os seus dramas
Sean Penn regressou à competição de Cannes na dupla qualidade de actor e cineasta: "Flag Day" é um empreendimento eminentemente familiar, já que a personagem da narradora é assumida por Dylan Penn, filha do realizador.
12 Jul 2021 1:42
Infelizmente, não há muito a dizer sobre a nova realização de Sean Penn, "Flag Day", também intérprete principal. Dir-se-ia que o actor/realizador ficou bloqueado num projecto que hesita entre ser uma evocação factual e uma grande parábola (?) sobre as relações pais/filhos — ou, mais precisamente, entre um pai e a sua filha.
Lembremos, por isso: esta é a história de John Vogel (Penn), assaltante de bancos e falsificador de dinheiro. Em boa verdade, no centro da história está a sua filha, Jennifer Vogel, jornalista que escreveu um livro sobre o pai, revelando como, em boa verdade, apenas teve noção das suas actividades quando ele foi preso…
Sean Penn terá querido transfigurar este drama familiar, "duplicando-o" num empreendimento também ele familiar. Dito de outro modo: entregou o papel de Jennifer a sua filha, Dylan Penn. O certo é que a definição algo simplista da personagem está longe de sustentar o respectivo trabalho de composição e o filme vai-se arrastando sem nunca encontrar um tom minimamente coerente.
"Flag Day" acaba por ser um exemplo revelador de como não basta ter uma personagem invulgar ou atípica para construir um filme. Mais do que isso: a exploração de um visual "decorativo", com algo de videoclip "lírico", prejudica ainda mais os resultados, como se Penn tivesse, afinal, menosprezado a via da própria tradição — talvez fosse suficiente optar por uma sólida abordagem psicológica…