21 Jun 2014 1:04
A audiência de cinema no mês de maio voltou a descer em comparação com 2013, de acordo com os dados mensais publicados pelo Instituto do Cinema e Audiovisual.
Esta nova descida segue-se a um aumento de 64% no número de espectadores, em abril – ampliado pelo facto de este ter sido, de longe, o pior mês do ano em 2013.
O sub-total de espectadores até 31 de maio de 2014 é agora 3,8% superior ao registado no mesmo período do ano anterior mas, mesmo assim, é o segundo pior dos últimos dez anos.
Entre 2004 e 2013, o número de entradas nas salas de cinema em Portugal diminuiu 27%. De 17,1 milhões de bilhetes vendidos passou-se para apenas 12,5 milhões.
Um problema europeu
A diminuição no consumo de cinema em sala não acontece apenas em Portugal, mas atualmente é possível separar o mercado europeu de distribuição e exibição de cinema em três grupos, de características diferentes:
– Países que atingiram a maturidade e não foram muito afetados pela crise económica – casos da Alemanha, Reino Unido, ou França. Têm um parque de salas desenvolvido e continuam a ser mercados chave, mas não possuem grande potencial de crescimento. Daqui, esperam-se apenas ligeiras variações a cada ano.
– Países afetados pela crise económica – é o caso da Espanha, que chegou a ser o segundo país europeu em termos de receitas de bilheteira e que, nos últimos cinco anos, perdeu, tal como Portugal, 27% dos espectadores; e, em menor medida, da Itália. Aqui há potencial de crescimento dadas as perdas recentes, mas o desempenho está intimamente ligado à melhoria das condições de vida dos consumidores.
– Países do leste europeu com potencial, mas com crescimento limitado devido a cenários económicos negativos. Caso da Polónia que tem população suficiente para se tornar num grande mercado, mas tarda em atingir o grau de desenvolvimento desejável.
Deixámos a Russia fora destas contas dado o seu caráter transcontinental.
As soluções
Em Espanha, o combate à crise de espectadores começou em outubro de 2013, com mais uma edição da Fiesta del Cine. Durantes três dias o preço dos bilhetes desceu para menos de 3€ na maioria dos cinemas.
O sucesso da iniciativa, que voltou a trazer muita gente às salas, fez com que se pensasse em algo mais alargado e permanente.
Apesar de, desde logo, vozes na indústria terem reclamado que uma descida permanente dos preços era incomportável, a verdade é que em pouco tempo foi criado um programa de bilhetes especiais a 5€, todas as quartas-feiras, desde meio de janeiro a meio de abril deste ano.
Para ajudar, a comédia "Ocho Apellidos Vascos", estreada em março, bateu recordes de bilheteira e foi #1 durante nove semanas consecutivas. Nesta altura é o segundo filme de sempre em Espanha, depois de "Avatar" e a maior produção local de todos os tempos. Uma sequela, com o título "Ocho Apellidos Catalanes" já está em preparação.
Em Itália, replicou-se a iniciativa espanhola com a Festa del Cinema a ocorrer durante a primeira quinzena de maio, com preços reduzidos de 3€ para as sessões normais e 5€ para as sessões em 3D.
Também a Holanda tem prevista uma campanha com preços reduzidos em setembro e a Noruega fará o mesmo em novembro.
Em França, desde janeiro deste ano existem preços reduzidos (4€) para crianças com menos de 14 anos.
Em Portugal, aguarda-se.
A singular situação do mercado, com elevados níveis de concentração de quotas de mercado, tanto do lado dos distribuidores como dos exibidores, coloca a responsabilidade de qualquer ação nos líderes destacados de mercado, a ex-Lusomundo e ex-Zon, agora unida com a Optimus na marca Nos.
Com o processo de fusão completado, será talvez a hora de perguntar: vai acontecer alguma coisa no mercado português?
VARIAÇÃO MENSAL NO NÚMERO DE ESPECTADORES DE CINEMA EM PORTUGAL
2013 | 2014 | Var. | |
JANEIRO | 1.065.231 | 1.075.872 | 1,0% |
FEVEREIRO | 876.127 | 729.770 | -16,7% |
MARÇO | 966.387 | 934.901 | -3,3% |
ABRIL | 693.502 | 1.138.799 | 64,2% |
MAIO | 785.918 | 675.724 | -14,0% |
Sub-Total | 4.387.165 | 4.555.066 | 3,8% |
Dados: ICA