Saltar para o conteúdo principal

28 Dez 2025

Brigitte Bardot, frequentemente referida em França simplesmente como “B.B.” e cujos últimos anos foram marcados por campanhas pelos direitos dos animais e simpatias políticas de extrema-direita, morreu aos 91 anos, informou a sua fundação no domingo. A causa da morte não foi divulgada.

Nascida em Paris a 28 de setembro de 1934, Bardot cresceu numa família de classe média alta. Descrevia-se como uma criança tímida e insegura que “usava óculos e tinha cabelo liso”.

Aos 15 anos, porém, foi capa da revista Elle, dando início a uma carreira de modelo que a levou ao cinema. A personagem de Bardot em “E Deus Criou a Mulher” era a personificação da feminilidade livre. A controvérsia alimentou o seu apelo e Bardot tornou-se um símbolo da França dos anos 50 e 60.

O seu encanto estendeu-se muito além do cinema francês. Aos 15 anos, Bob Dylan teria escrito a sua primeira canção sobre ela, a nunca lançada “Song for Brigitte”, enquanto Andy Warhol pintou o seu retrato.

A capacidade de Bardot em subverter os papéis tradicionais de género fez dela não apenas um símbolo sexual, mas um ícone da cultura pop e uma referência para a mudança de atitudes sociais.

Em 1959, Simone de Beauvoir escreveu um artigo para a revista Esquire no qual elogiava o notável senso de liberdade de Bardot. “B.B. não tenta escandalizar”, escreveu a filósofa feminista. “Ela segue as suas inclinações. Come quando tem fome e faz amor com a mesma simplicidade despretensiosa. Os deslizes morais podem ser corrigidos, mas como B.B. poderia ser curada dessa virtude deslumbrante — a autenticidade? É a sua própria essência. Espero que ela amadureça, mas não mude.”

Apesar da sua influência, Bardot não gostava da vida de celebridade. Falou frequentemente sobre ser prisioneira da própria fama, incapaz de aproveitar os prazeres simples da vida. “Ninguém consegue imaginar como foi horrível, que provação”, refletiu décadas depois. “Não conseguia continuar a viver assim.”

A sua vida pessoal foi marcada por quatro casamentos, casos amorosos amplamente divulgados e lutas bem documentadas contra a depressão. No seu 26.º aniversário, foi encontrada inconsciente numa casa na Riviera Francesa após tentar tirar a própria vida. Rumores de outra tentativa de suicídio surgiram anos mais tarde, quando misteriosamente cancelou a festa do seu 49.º aniversário e apareceu no hospital.

Além da carreira de atriz, Bardot teve uma carreira musical de sucesso. As suas colaborações com o cantor e compositor Serge Gainsbourg, incluindo a erótica “Je t’aime … moi non plus”, receberam elogios e provocaram controvérsia.

No final da década de 1960, posou para um busto de Marianne, a personificação da República Francesa, mas nunca sentiu grande satisfação com os elogios que recebia.

“Fui muito feliz, muito rica, muito bonita, muito adulada, muito famosa e muito infeliz”, disse à revista Paris Match por volta do seu 50.º aniversário. “Fui dececionada muitas vezes. Tive deceções realmente terríveis na minha vida. Por isso escolhi afastar-me, viver sozinha.”

Bardot fez o último dos seus 42 filmes em 1973. Desencantada com a indústria, declarou o mundo do cinema “podre” e deixou a vida pública. “Terei dedicado 20 anos da minha vida ao cinema, isso é suficiente”, disse numa entrevista de televisão na época.

Estabeleceu-se na badalada estância francesa de Saint-Tropez, onde encontrou consolo entre os animais e a paisagem mediterrânea. Lá, começou uma defesa apaixonada do bem-estar animal. “Esta é a minha única batalha, a única direção que quero dar à minha vida”, disse Bardot em 2013. A sua devoção aos animais tornou-se lendária. Em 1986, criou a Fundação Brigitte Bardot para o Bem-Estar e Proteção dos Animais, leiloando objetos pessoais no ano seguinte a fim de angariar fundos para a sua causa.

Bardot apoiou o ativista anti-caça às baleias Paul Watson e fez campanha vigorosa contra a crueldade animal, chegando a ameaçar deixar a França devido a disputas sobre o tema.

Quando o ator Gérard Depardieu aceitou a cidadania russa após uma discussão pública com as autoridades francesas, em 2013, Bardot ameaçou fazer o mesmo se a França sacrificasse dois elefantes do circo doentes.

Durante grande parte da última fase da sua vida, Bardot viveu sozinha atrás de altos muros em Saint-Tropez, rodeada por uma coleção de gatos, cães e cavalos. Essa paixão, como ela frequentemente sugeria, era um antídoto para os seus relacionamentos dececionantes. “Dei a minha beleza e a minha juventude aos homens”, disse certa vez. “Vou dar a minha sabedoria e experiência aos animais.”

Ao mesmo tempo, aumentava a reação negativa às suas declarações políticas. As opiniões públicas de Bardot sobre imigração, islamismo e homossexualidade levaram a uma série de condenações por incitar o ódio racial.

Entre 1997 e 2008, foi multada seis vezes pelos tribunais franceses por comentários, particularmente os direcionados à comunidade muçulmana da França. Num desses casos, um tribunal de Paris multou-a em 15 mil euros por descrever os muçulmanos como “essa população que está a destruir-nos e a destruir o nosso país ao impor os seus atos”.

Em 1992, casou-se com Bernard d’Ormale, ex-conselheiro do partido de extrema-direita Frente Nacional e, mais tarde, apoiou publicamente os sucessivos líderes do partido, Jean-Marie Le Pen e Marine Le Pen. Bardot chamou a esta última “a Joana d’Arc do século XXI”.

No entanto, apesar das opiniões polémicas, a influência de Bardot perdurou, seja na moda — com os média a notarem o retorno regular do seu penteado característico — ou por meio de documentários e livros ilustrados que celebram o seu impacto no cinema francês.

Questionada pelo canal francês BFM TV em maio de 2025 se se considerava um símbolo da revolução sexual, respondeu: “Não, porque antes de mim já tinham acontecido muitas coisas loucas — não esperaram por mim. O feminismo não é a minha onda; gosto de homens.”

Na mesma entrevista, perguntaram-lhe com que frequência refletia sobre a sua carreira no cinema. “Não penso nisso”, disse, “mas não rejeito, porque é graças a isso que sou conhecida em todo o mundo como alguém que defende os animais”.

  • Reuters
  • 28 Dez 2025 11:40

+ conteúdos