15 Jul 2019 17:16

O cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983) é um dos acontecimentos fulcrais do Verão cinematográfico. O ciclo ’25 x Buñuel’ reúne duas dezenas e meia de títulos (cerca de dois terços da sua filmografia), com especial destaque para o seu período mexicano.

Iniciado no dia 11 de Julho em Lisboa (Espaço Nimas) e Porto (Teatro do Campo Alegre), está também agendado para:
— Coimbra (Teatro Académico de Gil Vicente), a partir de 22 de Julho;
— Setúbal (Cinema Charlot – Auditório Municipal), a partir de 25 de Julho;
— Braga (Teatro Circo), a partir de 5 de Agosto.
* * * * *

 
Qualquer revisitação da obra de Luis Buñuel leva-nos necessariamente a um reencontro com as suas raízes surrealistas. Títulos lendários como “Um Cão Andaluz” [foto na galeria deste site], “A Idade de Ouro” e “Las Hurdes – Terra sem Pão”, produzidos entre 1929 e 1933, são exemplares de uma visão do mundo em que todas as evidências se apresentam contaminadas por desejos e fantasmas que destroem o seu realismo. Mais do que surrealista, a obra de Buñuel talvez se deva classificar como surreal, discutindo as certezas e fronteiras do próprio real — assim acontecia em “Los Olividados/Os Esquecidos”, chamando a atenção para as crianças dos bairros marginais das grandes metrópoles [sequência de abertura].



“Los Olvidados” é uma produção de 1950 e pertence ao período mexicano de Buñuel, sem dúvida menos conhecido (mas não menos importante) que os mais célebres títulos finais como “Belle de Jour” (1967) ou “O Charme Discreto da Burguesia” (1972). É nesse período que encontramos alguns dos seus melodramas mais ousados, incluindo “Susana”(1951), “A Filha do Engano” (1951) e ainda o genial “Ensaio de um Crime” (1955) [cenas de abertura].
 

Em 1961, Buñuel usou o “O Messias”, de Handel no seu “Viridiana”, o polémico filme sobre as virtudes e limites da caridade que lhe valeu a Palma de Ouro de Cannes. Tal presença musical possui um sugestivo valor simbólico. Porquê? Porque é uma das excepções que confirma uma regra “buñueliana”: de facto, nos seus filmes, a música é coisa rara. Dir-se-ia que ele procura as melodias e os ritmos de uma musicalidade interior, humana, por vezes demasiado humana.

Outro bom exemplo da sua arte narrativa poderá ser “Nazarín”, produção de 1959 que narra as aventuras e desventuras de um sacerdote que tenta cumprir os seus votos de caridade e austeridade. Adaptado do romance homónimo de Benito Pérez Gáldos, transferindo a acção de Espanha para o México, “Nazarín” pode resumir uma fundamental linha de força do universo buñueliano. A saber: não há fronteira estável entre a virtude e o pecado .



  • cinemaxeditor
  • 15 Jul 2019 17:16

+ conteúdos