12 Mai 2022 13:05

Conseguirá o tiktoker mais seguido da Europa, Khaby Lame, eclipsar Tom Cruise? Para a 75ª edição, o Festival de Cannes, o mais venerável dos eventos cinematográficos mundiais, embarcou numa procura frenética pela fonte da juventude.

Terminou a parceria histórica com o Canal+ que habitualmente transmitia as cerimónias de abertura e encerramento e, no seu lugar, colocou uma surpreendente combinação de serviço público (parceria com a France Télévisions) e novas tendências digitais com o aparecimento do Brut, serviço online de vídeo fundado há cinco anos por Renaud Le Van Kim, antigo funcionário do Canal+. O Brut concentra-se em formatos curtos e conta com 500 milhões de espectadores em mais de 100 países, na maioria entre os 18 e os 34 anos.

Um passo simbólico, numa altura em que a frequência nas salas de cinema está a envelhecer e sofre da concorrência das séries e do streaming, e quando muitos jovens só vão ao cinema para ver filmes de super-heróis, da Marvel ou DC Comics.

Contudo, "os temas abordados (nos filmes de) Cannes ressoam muito com os jovens de todo o mundo", explica Guillaume Lacroix, diretor do Brut, que vê a parceria como uma forma de tornar o festival "ainda mais inclusivo a nível geracional e em termos de diversidade".

Vários outros esquemas permitem o florescimento de jovens talentos em Cannes, tais como a Cinéfondation ou La Fabrique Cinéma, e o festival acaba de reposicionar a selecção "Un Certain Regard" nos novos talentos.

"Evoluir ou morrer"

Um ano após o rejuvenescimento da Palma de Ouro, entregue a uma jovem de trinta anos, Julia Ducournau, por "Titane", a competição dá as boas-vindas a idosos como David Cronenberg (79), ou os irmãos Dardenne (68 e 71), mas também a vários "juniores", como Lukas Dhont, de 30 anos, ou Saeed Roustaee, 32.

Tal como o mundo do cinema como um todo, em termos de imagem, Cannes "precisa de chegar a uma nova geração e modernizar-se", diz Julien Pillot, professor e investigador em economia na Inseec.

Ao lado de Tom Cruise, mais próximo dos "boomers" (geração nascida nas primeiras décadas após o fim da Segunda Guerra Mundial), também estará presente em Cannes "uma geração de actores glamorosos e muito seguidos nas redes sociais" que os novos meios de comunicação social não querem perder, sublinha Pillot.

O TikTok, a rede social preferida dos adolescentes e um paraíso para os vídeos ultra-curtos, transmitirá diariamente a entrada das estrelas, enquanto o Instagram aproveitará o burburinho de Cannes para destacar alguns dos seus influenciadores – que nada têm a ver com a sétima arte.

Como pináculo disto tudo, um "júri TikTok", que incluirá Khaby Lame (100 milhões de seguidores), escolherá entre vídeos de 30 segundos a 3 minutos para um prémio oficial, a ser atribuído a 20 de Maio pelo diretor do Festival de Cannes, Thierry Frémaux.

"Se Michel Hazanavicius ou Martin Scorsese tivessem hoje 16 anos, não estariam a filmar em Super-8, mas estariam a usar os seus telefones para criar conteúdo e contar histórias", diz Guillaume Lacroix, que assegura que o Brut permite que Cannes esteja presente "onde quer que estejam as gerações mais jovens".

A plataforma vai mesmo transpor os locais do Festival e da Croisette para o "metaverso" (mundo virtual) do Fortnite, um dos jogos de vídeo mais populares do mundo, que reivindica quase 200 milhões de utilizadores.

Na pele de um jornalista, actor ou realizador, os jogadores terão acesso a várias missões: "conduzir entrevistas", "passar um casting" ou "desfilar na passadeira vermelha"…

Confrontadas com estas iniciativas, "algumas pessoas vão escarnecer e criticar", prevê Julien Pillot. "Mas (o cinema) deve evoluir com os tempos, de modo a não morrer.

  • CINEMAX RTP com AFP
  • 12 Mai 2022 13:05

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