

Cannes 2025: Palma de Ouro para Robert De Niro à sombra das crises globais
O festival abriu a 78.ª edição sob o peso das questões políticas e humanitárias com homenagens emocionadas, críticas ferozes e uma clara mensagem de resistência artística.
O 78.º Festival de Cannes arrancou esta terça-feira com uma cerimónia de abertura marcada por fortes declarações políticas e homenagens comoventes. Numa Croisette onde o fascínio do cinema se entrelaçou com os ecos das convulsões mundiais, o festival inaugurou a edição de 2025 ao som de protestos contra a guerra em Gaza, críticas ao extremismo político nos Estados Unidos e um tributo emocionado à liberdade artística.
Robert De Niro, de 81 anos, recebeu das mãos de Leonardo DiCaprio a Palma de Ouro honorária. Uma homenagem que foi também o ponto de partida para um discurso contundente sobre o estado da democracia americana. “Estamos a lutar arduamente para defender uma democracia que sempre tomámos como garantida”, afirmou De Niro, criticando diretamente Donald Trump, a quem descreveu como “inculto”. “Os artistas são uma ameaça para os autocratas e fascistas deste mundo”, acrescentou o ator, aplaudido pela plateia.
Juliette Binoche, presidente do júri, lembrou a fotojornalista palestiniana Fatima Hassouna, morta por um ataque israelita em Gaza em abril. “Fatma deveria estar entre nós esta noite”, declarou a atriz francesa. “O cinema permanece. É o testemunho poderoso das nossas vidas, dos nossos sonhos.” Vestida de branco, com um véu que descia em cauda, Binoche evocou também as vítimas do terrorismo, os reféns, os refugiados e os “naufragados na indiferença”.
Ainda antes de Quentin Tarantino, aos gritos, declarar o festival oficialmente aberto, outras vozes se juntaram ao tom politizado da noite. Jeremy Strong, ator da série “Succession” e jurado, lembrou a figura de Roy Cohn — mentor de Trump — como “o progenitor das notícias falsas”. “O papel do cinema é hoje mais crucial do que nunca para combater estas forças”, defendeu.
Mas nem só de política se fez a abertura. A cantora francesa Mylène Farmer prestou homenagem ao cineasta David Lynch, falecido em janeiro, com uma atuação musical antes da exibição da comédia musical “Partir un jour”, protagonizada por Juliette Armanet, filme de abertura do 78.º Festival de Cannes que decorre até 24 de maio. Nesse dia, Binoche e os restantes oito membros do júri atribuirão a Palma de Ouro a um dos 22 filmes em competição.