13 Mai 2024
Estrelas, uma seleção que combina consagrados e novos nomes e a passagem da chama olímpica opõem-se a um contexto explosivo de ameaças de greve e rumores ligados a alegados abusos sexuais na indústria cinematográfica francesa.
A chama que anuncia os Jogo Olímpicos de Paris, subirá a famosa escadaria a 21 de maio, transportada pelo atleta paralímpico francês Arnaud Assoumani, anunciaram os organizadores na segunda-feira. Na mesma noite, será projetado o documentário “Olympiques! La France des Jeux”, de Mickaël Gamrasni.
Nos bastidores, o ambiente é menos festivo diferente, com rumores de acusações ligadas ao #MeToo a circularem há semanas nas redes sociais. A 77ª edição do Festival, sete anos após o caso Harvey Weinstein, que lançou o movimento pela liberdade de expressão, pode ser perturbada.
Uma lista de personalidades cinematográficas potencialmente acusadas tem circulado, mas nenhuma investigação jornalística foi publicada para confirmar ou refutar estes rumores.
“Caso a caso”
“Se surgir uma pessoa implicada, asseguramos que a melhor decisão será tomada com base em cada caso”, declarou recentemente a presidente do Festival, Iris Knobloch, numa tentativa de desanuviar a situação.
Domingo, os organizadores reiteraram o compromisso iniciado em 2018 de luta contra a violência sexual, “que já dura há demasiado tempo” na sétima arte, mediante uma unidade de apoio específica.
O tema será abordado de frente com a presença, na quarta-feira, de Judith Godrèche, que se tornou a ponta de lança do #MeToo em França. A atriz, que acusou de violação duas figuras de proa do cinema de autor, Benoît Jacquot e Jacques Doillon, apresentará curta-metragem. “Moi aussi”, realizada com a ajuda de um milhar de vítimas de violência sexual que responderam ao seu apelo nas redes sociais.
Na segunda-feira, a atriz juntou-se a uma manifestação de 100 a 200 pessoas em frente ao Centro Nacional do Cinema (CNC), em Paris, para exigir a saída de Dominique Boutonnat, o presidente da instituição que deverá ser julgado em junho por agressão sexual.
O ator Vincent Lindon, protagonista do filme “Deuxième acte”, do realizador Quentin Dupieux, que abre o Festival, reiterou na France Inter que “os homens devem acompanhar as mulheres” no movimento #MeToo no cinema, apelando a mais “calma” e “tolerância” face aos rumores.
Também na vertente laboral, a edição de 2024 arrisca-se a ser turbulenta.
Um coletivo de assessores de imprensa, projecionistas, gestores de bilheteira e outros trabalhadores do sector do cinema está a apelar à greve. Reivindicam o estatuto de trabalhadores precários na indústria do espetáculo e receberam o apoio de atores como Louis Garrel e Swann Arlaud. O Festival declara-se aberto ao diálogo.
Dispositivo inédito
Estes imprevistos quase fazem esquecer a competição, uma mistura de jovens talentos, como a francesa Agathe Riedinger e o seu primeiro filme, “Diamant brut”, sobre a reality TV, e monumentos da sétima arte, como Francis Ford Coppola, que disputa a terceira Palma de Ouro com “Megalopolis”, 45 anos após ter vencido com “Apocalypse Now”.
Os vencedores, que serão conhecidos a 25 de maio, são aguardados com grande expetativa, após o sucesso mundial do vencedor da Palma de Ouro de 2023, “Anatomia de uma Queda” de Justine Triet, que acabou por ganhar um Óscar.
O júri encarregado de decidir entre os 22 filmes em competição é presidido pela americana Greta Gerwig, realizadora do sucesso mundial de “Barbie”. A ela juntam-se os atores Omar Sy, Eva Green, Lily Gladstone e o realizador Kore-Eda.
Hollywood também será celebrada com a entrega de Palmas de Ouro honorárias a Meryl Streep e George Lucas, e ainda, fora de competição, o regresso da saga “Mad Max” (com o filme “Furiosa”) e a presença de Kevin Costner (com a primeira obra da sua saga sobre o Oeste americano).
Em vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris (26 de julho a 11 de agosto), para os quais está a ser utilizado como ensaio, o Festival beneficia de um sistema inédito de 17 câmaras de proteção com recurso à inteligência artificial. O objetivo é reconhecer comportamentos suspeitos, detetar a eventual presença de armas, ou movimentações na multidão, explica a autarquia de Cannes.