26 Mai 2023 23:45

Os favoritos, e os outros… Eis os pontos fortes e fracos dos 21 filmes candidatos à Palma de Ouro do 76º Festival de Cannes, que será entregue no sábado.

"Dead Leaves" de Aki Kaurismäki

O favorito da crítica: um romance ultra-melancólico entre duas almas solitárias numa Finlândia chuvosa e operária. É puro Kaurismäki, com as suas muitas referências à história do cinema.

Um filme com um enredo depurado sóbrio, em demasia para alguns.

"The Zone of Interest", de Jonathan Glazer

Recordação exímia da terrível "banalidade do mal", descreve de forma clínica e arrepiante o quotidiano indiferente da família do comandante do campo de extermínio nazi de Auschwitz.

Tão inesquecível quanto perturbador.

"Anatomie d’Une Chute", de Justine Triet

Através do julgamento de uma viúva acusada de assassinar o seu companheiro, a realizadora desconstrói pacientemente a dinâmica de poder de um casal abastado de artistas.

A actriz Sandra Hüller destaca-se, indecifrável. Excessivamente sistemático para alguns.

"May December", de Todd Haynes

A história de uma família nascida de um caso entre uma professora (Julianne Moore) e o seu aluno, e das décadas de negação que se seguiram. A chegada de uma actriz (Natalie Portman) interessada em adaptar o caso ao cinema pode pôr fim ao faz-de-conta.

O jogo de espelhos entre Moore e Portman conquistou os críticos, mas a trama deixou alguns a pedir mais.


"Perfect Days", de Wim Wenders

Um poema inesperado que segue um empregado numa casa de banho pública de Tóquio. Um homem silencioso que colecciona cassetes áudio de clássicos do rock, mas cujo passado ressurge através de encontros inesperados.

Alguns elogiam-no como um filme onírico, outros criticam um realizador alemão lendário que "chegou ao fim da sua carreira".


"Youth (Spring)", de Wang Bing

Três horas e trinta minutos de filmagens imersivas de jovens que trabalham em fábricas têxteis chinesas. Ao mostrar estes homens e mulheres como nunca foram vistos antes, com os seus grandes e pequenos problemas, "Youth" devolve-lhes a humanidade.

A paciência infinita do maior documentarista chinês (quatro anos de imersão e filmagens) resultou numa obra monumental, que inevitavelmente perderá alguns espectadores pelo caminho.

"The Old Oak", de Ken Loach

Um filme manifesto sobre a amizade entre o dono de um pub e uma fotógrafa, pertencente a um grupo de refugiados sírios que se instalam numa aldeia desfavorecida da Grã-Bretanha. Será esta amizade mais forte do que o racismo e o preconceito?

Um Ken Loach político e empenhado, fiel à sua tradição, mas que pode parecer um pouco maniqueísta e ingénuo.

"Dry Grass", de Nuri Bilge Ceylan

Nuri Bilge Ceylan volta a instalar a sua câmara na Anatólia coberta de neve para narrar a vida de um professor do ensino secundário acusado de assédio sexual por uma aluna. As considerações políticas e íntimas entrelaçam-se.

Os fãs do cineasta turco terão apreciado o filme, mas a misantropia da personagem principal e as longas cenas de diálogo podem desmotivar o espectador.

"Rapito", de Marco Bellocchio

Spielberg interessou-se pelo caso, mas foi Marco Bellocchio que fez um filme sobre ele: o italiano reabre uma página negra do anti-semitismo da Igreja com este filme sobre o rapto de uma criança judia de Bolonha, por ordem papal, no século XIX.

Um fresco histórico altamente político com uma direcção virtuosa, correndo o risco de parecer empolado.


"La passion de Dodin Bouffant", de Tran Anh Hung

O filme mais fracturante do festival. Esta adaptação de um romance sobre gastronomia, protagonizada por Juliette Binoche e Benoît Magimel, é para uns um pastelão vagamente inspirado no "Top Chef", para outros uma ode à cozinha francesa.

"Les filles d’Olfa", de Kaouther Ben Hania

Um documentário inovador em que as actrizes reconstituem as cenas mais duras vividas pela protagonista, para contar a história de uma família tunisina confrontada com a radicalização de duas das suas filhas. E para explorar o papel das mães numa sociedade sob o jugo do patriarcado.

Comovente e humano.

"Monster", de Hirokazu Kore-eda

Kore-Eda regressa ao Japão com este filme sobre o bullying nas escolas. Contado a partir de múltiplos pontos de vista, o enredo evolui para uma estreita amizade entre dois jovens alunos.

A emoção é palpável, mas a estrutura caleidoscópica pode ser cansativa.

"Il Sol dell’avvenire", de Nanni Moretti
Nanni Moretti, fiel à sua forma, sobe ao palco para contar a história de um cineasta que já não compreende os métodos de trabalho dos seus contemporâneos. É uma reflexão sobre a política, o empenhamento e a criação que reúne todo o elenco do cineasta italiano para um desfile final.

Um filme compósito e por vezes irregular, melancólico mas não amargo.



"Firebrand", de Karim Aïnouz

Um fresco histórico e um conto de fadas sombrio sobre o destino de Catherine Parr (Alicia Vikander), a sexta e última mulher do rei Henrique VIII.

O desempenho de Jude Law, quase irreconhecível como o governante ciumento e paranóico, foi elogiado, mas alguns críticos lamentaram a falta de autenticidade do guião.

"Le Retour", de Catherine Corsini

A história de uma viúva e das suas duas filhas durante um Verão na Córsega. Esta história luminosa de emancipação entrelaça questões sociais, raciais e sexuais, pondo em evidência os compromissos e as contradições das suas personagens.

Um prémio poderia reacender a controvérsia em torno de um filme que foi privado de financiamento público por ter filmado uma cena íntima com uma menor de idade sem o declarar às autoridades.


"Club Zero", de Jessica Hausner

As crianças deixam de comer e a sociedade está à beira do abismo: "Club Zero" é uma sátira cínica sobre o fanatismo que o presidente do júri, Ruben Östlund, não hesitaria em elogiar. E ao contar a chegada de uma professora de dietética com métodos extremos a um liceu de luxo, ironiza as neuroses contemporâneas.


"L’été dernier", de Catherine Breillat

Uma madrasta (Léa Drucker) desenvolve uma relação carnal com o filho adolescente do marido de um casamento anterior: este conto imoral marca o regresso da realizadora Catherine Breillat.

Uma provocação sem rodeios, cujos diálogos por vezes artificiais e uma direcção pouco convincente decepcionaram muitos.


"La chimère", de Alice Rohrwacher

Um mergulho exigente no mundo do mercado negro dos artefactos funerários, com a história de uma jovem arqueóloga misturada com um grupo de ladrões de túmulos na Itália dos anos 1980.

"Banel & Adam", de Ramata-Toulaye Sy

Única primeira obra na corrida à Palma de Ouro, este retrato de uma mulher em busca de emancipação foi rodado numa aldeia rural do norte do Senegal. Conta a história da relação amorosa entre a fogosa e rebelde Banel e o jovem Adama, que se tornará o chefe da aldeia.

Algumas das imagens são sublimes.

"Asteroid City", de Wes Anderson

Esta fábula sobre um grupo de crianças sobredotadas confinadas a um canto do deserto onde chega um extraterrestre é tão boa quanto o seu elenco intergaláctico: Adrien Brody, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Margot Robbie, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Matt Dillon…

Apenas para os fãs de Wes Anderson.


"Black Flies", de Jean-Stéphane Sauvaire

Este thriller protagonizado por Sean Penn e Ty Sheridan, que segue dois motoristas de ambulância a uma velocidade vertiginosa pelas ruas de Nova Iorque, foi objecto de uma rejeição quase unânime.

  • AFP
  • 26 Mai 2023 23:45

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