22 Mai 2016 1:59

A competição do 69º Festival de Cannes terminou com um filme
empolgante que marca o regresso do holandês Paul Verhoeven na sua primeira
produção francesa.

22 anos depois de ter marcado presença na abertura do
festival com "Instinto Fatal", protagonizado por Sharon Stone, o realizador apresentou um
thriller atual sobre Michelle, uma mulher que dirige uma companhia de jogos de vídeo e
que é agredida e violada em casa.

O papel assenta perfeitamente a Isabelle Hupert que
interpreta esta vítima com imensa ambiguidade, optando por não denunciar a
agressão à polícia e aguardando por um eventual regresso do homem que a
agrediu.

O masoquismo implícito nessa atitude recorda o papel da
atriz em "A Pianista" de Michael Haneke, com o qual Hupert ganhou o prémio de
melhor atriz em Cannes.
Emocionalmente distante, Michelle
gere as relações mais próximas com pragmatismo, seja com a mãe, o irmão, a jovem cunhada, o ex marido e até o amante que é casado com a sua melhor amiga. E procura aceitar os erros, tentando
compreender-se a ela própria.

Verhoven amplia uma série de situações perversas que revelam
comportamentos e atitudes sociais muito contemporâneas, assumindo uma ironia
deliciosa e uma atitude espirituosa deliciosa e divertida.

"Elle" combina a intensidade sombria de um policial com a
ligeireza luminosa de uma comédia. O mais incrível é que Verhoven caminha
sempre no arame, arriscando em diversos momentos e aguentando-se sem nunca cair. Precisa que o
público aceite o que está a fazer e pelo que se viu em Cannes terá essa
compreensão.

O filme está em estado de graça, a crítica rendeu-se de uma
forma generalizada, e "Elle" até salvou uma competição pela Palma de Ouro onde rarearam
obras capazes de mobilizar a plateia pela positiva.

  • cinemaxeditor
  • 22 Mai 2016 1:59

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