15 Mai 2023 20:31
Longe do burburinho mediático em torno das suas estrelas, "Jeanne du Barry" abre o Festival de Cannes na terça-feira. O filme sobre a última favorita de Luís XV é "académico" e "clássico", afirma a realizadora e atriz.
Produtora, realizadora e actriz principal, Maïwenn, que interpreta Madame du Barry, gosta do facto de que a sua longa-metragem possa surpreender a crítica pelo seu classicismo.
"Foi uma forma de dizer: não me conhecem", disse à AFP. "Sou uma pessoa múltipla, imprevisível. Não é porque os meus filmes anteriores foram filmados em improviso, de uma forma muito moderna, que não gosto do cinema clássico, da música clássica, da língua francesa clássica.
Quando ofereceu à estrela o papel de um rei francês, não fazia ideia de que tanto ela como Johnny Depp estariam envolvidos em processos judiciais: ele em dois processos mediáticos contra Amber Heard, e ela através de uma queixa apresentada em março pelo jornalista e fundador da Mediapart, Edwy Plenel, que a acusa de agressão num restaurante de Paris.
Maïwenn não comenta o seu "caso em curso" – apesar de ter reconhecido formalmente a agressão num programa da televisão francesa na passada semana – mas confessa ter tido "preocupações" sobre o impacto dos processos de Depp.
"O filme foi rodado no Verão passado, ele estava a sair do segundo julgamento. Preocupei-me bastante e pensei: o que vai acontecer à imagem dele?"
No entanto, não se arrepende da surpreendente escolha de um actor americano para interpretar um rei francês.
"Com ele, era tão óbvio", diz Maïwenn, que conta ter abordado inicialmente dois actores franceses que recusaram, ou adiaram a resposta.
O francês quase perfeito de Depp impressiona sobretudo pelas suas expressões faciais, sejam elas amorosas, divertidas ou imperiosas, ao longo do filme, que foi rodado em vários castelos franceses e em estúdio.
Maïwenn descobriu a personagem de Jeanne du Barry, rapariga comum, cortesã e último grande amor de Luís XV, através do filme "Marie Antoinette", de Sofia Coppola.
"Fez-me sonhar em rodar um dia um filme de época, mas foi a descoberta da Jeanne du Barry interpretada por Asia Argento que me obcecou completamente", diz a realizadora, cujo filme "Mon Roi" esteve em competição para a Palma de Ouro em 2015. "É complicado justificar sempre os nossos desejos. É assim, ela intrigou-me", diz com impaciência.
"Ela e eu temos o mesmo temperamento, somos do mesmo planeta", garante a realizadora que casou com Luc Besson aos 16 anos e referiu em entrevistas ter sido vítima de abusos por parte dos pais.
Maïwenn mostra Jeanne du Barry – cujo verdadeiro nome é Jeanne Bécu ou de Vaubernier – desde a infância com uma mãe sem escrúpulos, até à entrada na corte de Versalhes, que se mostra chocada com o seu passado de prostituta.
"Não queria ignorar o seu lado venal, ou mesmo racista, com Zamor", o pajem e antigo escravo que, anos mais tarde, a levaria a ser condenada à guilhotina.
Tal como Madame du Barry, procurou adaptar-se aos "complicados códigos da corte", introduzidos no ecrã por um Benjamin Lavernhe, simultaneamente cómico e comovente no papel de La Borde, o primeiro camareiro do rei.
Se o filme está longe do espírito "rock and roll" de Sofia Coppola, a realizadora confessa que aceitou alguns desvios da realidade histórica: Jeanne casa com o conde Jean du Barry, quando na realidade casou com o seu irmão Guillaume.
O maior desafio foi a falta de tempo. "Tive dez semanas, foi muito pouco", diz Maïwenn. "É um filme que custou 20 milhões, mas teria sido preciso mais 10" para manter um ritmo de rodagem normal.
Maïwenn rejeita qualquer controvérsia sobre o co-financiamento saudita do filme, afirmando que "é a prova de que as mentalidades estão a mudar".
De acordo com o 50/50 Collective, a realizadora está à frente do filme francês com o maior orçamento realizado por uma mulher este ano. "É caro, o século XVIII", comenta.