Cineasta iraniano Jafar Panahi condenado à revelia a um ano de prisão
O realizador de "Foi Só Um Acidente" está nos EUA a promover o seu filme, um favorito às nomeações para os Óscares.
O cineasta iraniano Jafar Panahi, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, foi condenado à revelia a um ano de prisão por “atividades de propaganda” contra o Estado, anunciou na segunda-feira à AFP o seu advogado.
A pena é acompanhada de uma proibição de viajar por dois anos e de aderir a qualquer grupo político ou social, precisou o advogado Mostafa Nili, acrescentando que pretende recorrer da decisão sem dar outros detalhes sobre a natureza exata das acusações contra o seu cliente, que se encontra atualmente no estrangeiro.
O realizador de 65 anos ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes em maio passado pelo seu filme “Foi Só Um Acidente”.
Após anos sem poder sair do Irão, Jafar Panahi, figura do cinema iraniano, multipremiado internacionalmente, pôde viajar para um festival pela primeira vez em 15 anos.
Nas últimas semanas, tem estado em digressão por diversos países – passou também por Portugal – para promover a sua longa-metragem, escolhida para representar a França nos Óscares. Está atualmente nos Estados Unidos onde decorre a campanha de promoção antes dos Óscares.
Realizado clandestinamente, “Foi Só Um Acidente”, onde um torturador da República Islâmica se vê nas mãos dos seus antigos prisioneiros, quase não chegou a ser concluído. As filmagens foram interrompidas pela polícia, antes de serem terminadas à pressa algumas semanas mais tarde.
“Tenho 65 anos, nunca dei ouvidos à censura, não é agora que vou começar a fazê-lo”, afirmou numa entrevista concedida à AFP em setembro.
Panahi nunca se resignou ao exílio, preferindo permanecer no seu país contra ventos e marés, para examinar nas suas obras as injustiças sociais ou o lugar das mulheres.
Entre os seus filmes mais aclamados está «Taxi», filmado a partir do interior de um táxi, pelo qual recebeu o Urso de Ouro na Berlinale em 2015 e que deixou os conservadores iranianos furiosos.
O amor pelo cinema deste filho de um artesão, nascido em Teerão a 11 de julho de 1960 e criado nos bairros pobres da capital, custou-lhe várias vezes a sua liberdade: foi preso 86 dias em 2010 e quase sete meses entre 2022 e 2023. Chegou mesmo a iniciar uma greve de fome para obter a sua libertação.
Embora existisse algum receio no seu regresso a Teerão em maio, Jafar Panahi foi aclamado pelos admiradores, sem ser incomodado. Uma recepção que contrastou com a reação fria dos meios de comunicação estatais iranianos e dos líderes do poder à primeira Palma de Ouro iraniana desde 1997, por “O Sabor da Cereja”, em 1997, de Abbas Kiarostami.
No ano passado, o prémio escapou a outro dissidente iraniano, Mohammad Rasoulof, que teve de se contentar com um prémio especial e permaneceu no exílio após uma condenação por “conluio contra a segurança nacional”.