Na primeira sessão do ano o Cinemax Curtas celebra o melhor cinema animado de 2017 exibindo dois filmes com temática semelhante já que ambos lidam com memórias da guerra.
Em "Estilhaços", José Miguel Ribeiro aprofunda os efeitos do ‘stress’ pós-traumático da guerra colonial num contexto familiar
"Estilhaços" combina imagem real, desenho animado e ‘stop-motion’, utilizando as diferentes técnicas para diferenciar as narrativas da história. O filme é uma ficção documental com duas perspetivas sobre a guerra: a do pai, que a viveu, e a do filho, que cresceu a construir uma memória da guerra a partir dos relatos do progenitor.
"Estilhaços" é o filme de animação mais bem premiado em 2016/2017: prémio Sophia melhor curta-metragem de animação da Academia Portuguesa de Cinema; prémio António Gaio na competição nacional e prémio especial do júri da competição internacional do Cinanima; melhor curta-metragem portuguesa, menção honrosa e prémio do público na Monstra; melhor documentário no Festival de Clermont-Ferrand; e prémio da Imprensa para Melhor Curta-Metragem, no Anima, em Bruxelas.
Em "Chatear-me-ia Morrer Tão Joveeeeem…", Filipe Abranches animou uma história de sobrevivência durante a I Guerra Mundial. O filme evoca a presença dos soldados portugueses na Flandres, durante o primeiro conflito armado onde o gás mostarda foi usado como arma química.
O centenário da Batalha de La Lys, na Flandres, Bélgica, que marcou tragicamente a presença de Portugal na I Guerra Mundial, é assinalado no próximo dia 9 de abril de 2018.
A terceira curta-metragem do realizador e ilustrador Pedro Abranches recebeu o prémio de melhor animação portuguesa na Monstra 2016.
Estilhaços, José Miguel Ribeiro, 18 min, 2016
Este é um filme sobre a forma como a Guerra se instala no corpo das pessoas que a vivem olhos nos olhos. E, depois, a milhares de quilómetros e dezenas de anos decorridos, contamina, como um vírus, outros seres humanos.
Chatear-me-ia Morrer tão Joveeeeem…, Filipe Abranches, 16 min, 2016
A história de um soldado português que parte para os campos de batalha na Flandres. A sua máscara de gás irá acompanhá-lo pelos corredores estreitos das trincheiras onde irá tomar contacto com os horrores da Grande Guerra. Ao inalar o gás mostarda, pela primeira vez usado como arma química, será sujeito a uma sequência de visões de figuras. Estes novos personagens são vítimas e simbolicamente dão-nos a sua visão daquela catástrofe.
Já muito debilitado, Tiago, o soldado, encontra uma estratégia para escapar dali ajudado por uma rã. Rasteja sob o nevoeiro amarelo que não chega nunca a tocar o solo para ser finalmente salvo por uma família francesa. A história chegou até aos descendentes de Tiago que descobriram fotos daquela família e do próprio soldado em pose e trajando a sua farda.