Em 2018, com o filme “Girl – O Sonho de Lara”, o jovem cineasta contou a história de um rapaz que tenta vencer as adversidades do corpo, para cumprir a vontade de ser bailarina profissional.
Agora, em “Close”, Lukas Dhont retoma o interesse pelas dores da adolescência, com um olhar sobre o momento em que dois amigos de 13 anos, sentem o peso de quem olha para uma amizade no masculino: “A determinada altura visitei a minha escola primária, na cidade onde mora a minha mãe. Dei um longo passeio, nem sei bem porquê, mas depois do “Girl” parecia que algo me chamava à infância e ao rapaz que fui.
Acho que é por causa desse rapaz que fiz o filme (…) que é fiel ao que quero ser como realizador e como ser humano. Foi importante para mim, acho que não teria conseguido que este fosse o meu primeiro filme, estou contente que tenha sido o segundo.”
Léo e Rémi são dois miúdos que vivem num ambiente rural. Começamos por descobri-los durante as férias de Verão, numa explosão de cor, flores, jogos e brincadeiras que se desenrolam num universo próprio de inocência e felicidade, sem qualquer restrição familiar ou de qualquer outra natureza. Mas a relação de afecto entre os dois será questionada no regresso à escola e ao mundo normativo, onde os rapazes crescem violentos e agressivos para se tornarem homens.
Para contar a história do fim da inocência, Lukas Dhont partiu de um estudo sobre a forma como adolescentes entre os 13 e os 18 anos alteram o discurso sobre as amizades masculinas: “Aos 13 anos os rapazes falam das relações de amizade com outros rapazes, como se fossem histórias de amor. Partilham todas as emoções e os segredos. Depois aos 15, 16 e aos 18 anos, perdem a linguagem das emoções e passam para algo performativo de uma certa masculinidade. Eu queria contrabalançar tudo isto e mostrar a ternura e a fragilidade, com a esperança de que se multipliquem."
Eden Dambrine e Gustav De Waele interpretam os dois rapazes cuja amizade é questionada pelo olhar dos outros e por uma sociedade que os obriga a catalogar as emoções, numa etapa da vida em que tudo ainda é plenamente livre e descomprometido.
“Close” é um filme de planos fechados sobre os dois rapazes, os seus gestos e emoções. E é também um filme que coloca os homens adultos em pano de fundo e onde sobressai apenas a mãe de um deles, confrontada com o drama de dois amigos que se debatem para contornar os obstáculos do crescimento.
Lukas Dhont quis filmar uma história de afectos, onde os homens crescidos, parecem não ter lugar: “Queria fazer um filme com mães e filhos rapazes. Acho que é algo inconsciente. A minha mãe é a responsável por eu querer fazer filmes. Porque ela foi ao cinema ver o “Titanic” 5 vezes, quando eu tinha 7 anos e falava disso constantemente. Foi ela quem me deu uma camera de filmar aos 12 anos. E foi a minha primeira actriz. Filmava-a por toda a casa, pedia-lhe para ela dizer e fazer coisas para a camera. Acho que inconscientemente queria fazer um filme sobre rapazes e as mães.”
Além da influência e inspiração que vai buscar à mãe, Lukas Dhont faz equipa com o irmão novo Michiel Dhont, um dos produtores do filme, que reúne meios da Bélgica, França e Países Baixos. Alias, o filme percorre várias línguas, reflexo do lugar que o realizador quer ocupar no cinema: “Desde o inicio que digo que quero ser um realizador belga, para mim isso é importante. O que no torna únicos, é esta mistura entre o flamengo e o francês e para mim é interessante trabalhar com os dois lados e reunir uma equipa com francófonos e flamengos.(….) Eu penso de forma mais alargada do que isso, talvez mais ambiciosa e por isso o filme passa pelas duas línguas.”
“Close” foi o candidato da Bélgica, ao Óscar de melhor filme internacional, depois de ter recebido em Cannes, o Grande prémio do Júri. Anteriormente, e também em Cannes, com “Girl – O Sonho de Lara”, Lukas Dhont recebeu a camera de Ouro para melhor primeira obra. Depois do prémio, entrou na lista da Forbes dos nomes que importa reter abaixo dos 30 anos.
Agora, que já passou essa faixa etária, está no caminho certo para se tornar um dos realizadores da Europa que vale a pena acompanhar.
O filme está em exibição nos cinemas.