04 Set 2024
Daniel Craig, mais conhecido pelo papel de James Bond, disse terça-feira que recorreu à dança para “quebrar o gelo” antes de filmar cenas eróticas com o seu parceiro em “Queer”, que está a concorrer ao Leão de Ouro em Veneza.
“Sabem tão bem como eu que não há nada de íntimo em filmar uma cena de sexo. A sala está cheia de gente a olhar para ti”, explicou o ator de 56 anos, que interpreta um americano que se apaixona na Cidade do México do pós-guerra por um jovem compatriota, interpretado por Drew Starkey, 30 anos, visto na série “Outer Banks”.
“O Drew e eu começámos os ensaios meses antes de filmar (…) e dançar com alguém é ótimo para quebrar o gelo”, explicou com um sorriso. “Só queríamos criar algo tão tocante, autêntico e natural quanto possível”, sublinhou.
“Queer”, realizado pelo italiano Luca Guadagnino foi rodado nos estúdios Cinecittà, em Roma, e adapta um romance inacabado do escritor americano William S. Burroughs (1914-1997), conhecido pelos romances que misturam drogas, homossexualidade e futurismo, associado às figuras emblemáticas da Geração Beat, os seus amigos Jack Kerouac e Allen Ginsberg.
Guadagnino e o argumentista Justin Kuritzkes deram um desfecho à história, levando as personagens para a selva em busca de uma droga alucinogénia.
O cineasta há muito que desejava filmar esta obra. “Foi uma longa espera. Li o livro quando tinha 18 anos”, disse, acrescentando que comprou os direitos da obra há apenas dois anos. “Por isso, algo que era realmente um desejo de 33 anos tornou-se num filme que aconteceu em seis meses.”
Guadagnino, ganhou reconhecimento internacional com “Chama-me pelo teu nome” (2017) e disse esperar que o público olhe para além do sexo. “Acho que o Daniel está tão bem despido em termos de alma neste filme que esse será o aspeto que vai ser atrair as pessoas, independentemente de quão nu ele esteja no ecrã”, disse o realizador italiano.
“Queer” é um livro “muito curto”, mas “cheio de emoção”: “sobre amor, perda, solidão, desejo, é sobre tudo isso”, disse Daniel Craig, que com este papel rompe a imagem arquetípica de assassino de mulheres esculpida ao longo das aparições na saga James Bond.
Craig fez cinco filmes como 007. O último, “Sem Tempo para Morrer”, foi lançado em 2021, mas o ator afirma que há muito esperava trabalhar com Guadagnino, trocando o blockbuster de grande orçamento por uma produção de menor escala. “Há muito tempo que queria trabalhar com ele. Conheci-o há 20 anos, sim, quase, e sempre dissemos que acabaríamos por trabalhar juntos…, e trabalhámos”, disse.
O filme de Luca Guadagnino, cuja cinematografia faz lembrar os quadros do pintor americano Edward Hopper, está em competição com vinte outros filmes no Festival de Veneza, cujos vencedores serão anunciados no sábado à noite.
Fotos: (G. Zucchiatti La Biennale di Venezia – Foto ASAC)