26 Jun 2019 20:39

A atribuição de uma Palma de Ouro honorária a Alain Delon [Cannes/2019] envolveu muitos factores, desde a espantosa riqueza da sua filmografia até à sua condição de símbolo exemplar de toda uma vasta tradição do cinema francês — em boa verdade, do cinema europeu.

Em 1963, por exemplo, contava 27 anos, Delon esteve no Palácio dos Festivais, em Cannes, ao lado de Burt Lancaster e Claudia Cardinale para apresentar a obra-prima de Luchino Visconti, “O Leopardo” — e “O Leopardo” ganhou a Palma de Ouro. O trailer americano do filme era apresentado pelo próprio Burt Lancaster, evocando o prémio em Cannes e sublinhando o facto de, nos EUA, o filme ser distribuído pela 20th Century Fox que já tinha lançado outros grandes espectáculos como “O Dia Mais Longo” e “Cleópatra”.


Os anos 60/70 de Delon oscilaram entre França e Itália — por exemplo, filmou “O Eclipse” (1962), sob a direcção de Michelangelo Antonioni, e “A Piscina” (1969), um dos seus filmes mais populares, um “thriller” em que contracenava com Romy Schneider, sob a direcção de Jacques Deray. E foi também construindo uma imagem de marca, fria e austera, que teve a sua apoteose nos policiais de Jean-Pierre Melville, em especial nessa obra-prima de 1967 que é “Le Samouraï/O Ofício de Matar”.


A projecção internacional de Alain Delon passou, em grande parte, pelo sucesso de “Borsalino” (1970), um filme de gangsters, de novo sob a direcção de Jacques Deray, desta vez tendo Jean-Paul Belmondo como principal companhia. Ele está também num dos filmes mais extraordinários que já se fizeram sobre a perseguição dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial — chama-se “Mister Klein”, ou melhor, “Monsieur Klein” (1976), é uma produção francesa e tem assinatura de um americano, Joseph Losey.


Alain Delon é um homem de contrastes: surge, por exemplo, num filme tão especial, e também tão solitário, como “Nova Vaga”, de Jean-Luc Godard, uma produção de 1990, para, em 2008, participar numa comédia como “Astérix nos Jogos Olímpicos”, interpretando a personagem de Júlio César. Enfim, convém não esquecer que Alain Delon foi (em boa verdade, ainda é) um símbolo universal da cinefilia — eis o registo da sua consagração em Cannes.

  • cinemaxeditor
  • 26 Jun 2019 20:39

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