

Gaza: 1 500 actores e realizadores anunciam boicote às instituições israelitas
Entre os signatários estão os cineastas portugueses Sérgio Tréfaut, Susana de Sousa Dias, Teresa Villaverde e Pedro Serrazina.
Cerca de 1 500 atores, realizadores e profissionais de cinema internacionais, como Olivia Colman, Javier Bardem e Mark Ruffalo, anunciaram que vão deixar de trabalhar com instituições cinematográficas israelitas, que acusam de estarem “envolvidas no genocídio” em Gaza, numa carta publicada no The Guardian, esta segunda-feira.
“Neste momento de crise, em que muitos dos nossos governos estão a permitir a carnificina em Gaza, temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para responder a esta cumplicidade”, escreveram numa carta também assinada pelo realizador Yorgos Lanthimos e pelas atrizes Ayo Edebiri e Tilda Swinton.
Este compromisso, iniciado pelo grupo Film Workers for Palestine, inspira-se no boicote cultural na África do Sul durante a época do apartheid e, em particular, em “Filmmakers United Against Apartheid”.
Em termos concretos, o objetivo é deixar de colaborar com festivais, cinemas, emissoras e empresas de produção culpadas, segundo os signatários, de “exonerar ou justificar o genocídio e o apartheid”.
Citam, por exemplo, o Festival de Cinema de Jerusalém e o festival de documentários Docaviv, que “continuam a colaborar com o governo israelita”.
“A grande maioria das empresas israelitas de produção e distribuição de filmes, agentes de vendas, cinemas e outras instituições cinematográficas nunca reconheceram os direitos internacionalmente reconhecidos do povo palestiniano na sua totalidade”, denunciam.
Acrescentam que “existem, no entanto, algumas entidades cinematográficas israelitas que não são cúmplices”, sem as nomear.
“Estamos a responder ao apelo dos cineastas palestinianos, que pediram à indústria cinematográfica internacional para rejeitar o silêncio, o racismo e a desumanização”, acrescentam no texto, que inclui também Ava DuVernay, Riz Ahmed e Josh O’Connor e cineastas portugueses como Sérgio Tréfaut, Susana de Sousa Dias, Teresa Villaverde e Pedro Serrazina entre os signatários.
O apelo ao boicote visa “a cumplicidade institucional, não a identidade”, nem os indivíduos de nacionalidade israelita, refere a carta.
Várias cartas assinadas por personalidades do mundo do cinema, da música e da literatura foram publicadas desde o ataque sem precedentes do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, e a devastadora ofensiva israelita lançada em Gaza em resposta.
No final de agosto, o coletivo de cineastas italianos Venice4Palestine instou o festival da cidade a “adotar uma posição clara e inequívoca” contra as ações de Israel, tendo a sua carta reunido 2 000 assinaturas, incluindo as de Guillermo del Toro e Ken Loach.
Alguns meses antes, em Cannes, cerca de 900 celebridades tinham assinado uma petição denunciando o “silêncio” sobre o “genocídio” em Gaza, incluindo a presidente do júri Juliette Binoche, Pedro Almodóvar, Joaquin Phoenix e Susan Sarandon.
O ataque de 7 de outubro de 2023, perpetrado por comandos do Hamas infiltrados no sul de Israel, causou a morte de 1 219 pessoas do lado israelita, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
A retaliação israelita, através de uma violenta e incessante campanha militar, causou a morte de pelo menos 64 368 pessoas em Gaza, na sua maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, cujos dados são considerados fiáveis pela ONU.