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Godard não passou por aqui
Na competição de Cannes, o cinema francês reflecte... o cinema francês: Michel Hazanavicius encena a relação entre Jean-Luc Godard e Anne Wiazemsky, tendo como ponto de partida as memorias da actriz. Triste e lamentável.
21 Mai 2017 11:42
Em 1967, o cineasta Jean-Luc Godard apaixonou-se por Anne Wiazemsky, uma jovem estudante e actriz com quem viria a casar-se, além do mais dando-lhe um papel central no seu filme "La Chinoise". Quase meio século depois, Wiazemsky publicou uma memória da sua breve vida conjugal e artística com o cineasta ("Un An Apres"), ao que parece particularmente crua sobre o egoismo de Godard, o falhanço comercial de "La Chinoise" e a atribulada relaão do cineasta com os eventos de Maio 68…
Presente na competição de Cannes, o filme "Le Redoutable", de Michel Hazanavicius, surge como uma adaptação do livro de Wiazemsky, com Louis Garrel e Stacy Martin nos papéis principais. E o menos que se pode dizer é que estamos perante uma explicitação grosseira dos sentimentos de ódio e menosprezo contra Godard que há muitos anos existem em muitas zonas do cinema frances (e não só, hélas!).
Será que Godard é uma personagem angelical que não pode ser posta em causa? Bem pelo contrário: mesmo os que nele reconhecem um criador da dimensão de um Mozart ou um Rembrandt (entre os quais me incluo), reconhecerão tambem, serenamente, que não estamos perante um ser humano fácil, muito menos de universal apelo. Resta saber o que, cinematograficamente, Hazanavicius faz com aqueles sentimentos.
A resposta é rudimentar e muito triste: Hazanavicius faz um filme a "imitar" o visual de "La Chinoise" (e de mais alguns tétulos de Godard, incluindo "O Desprezo" ou "Une Femme Mariée"), satisfazendo-se com a redução de todas as personagens a infelizes caricaturas de grosseiros clichés. Dir-se-ia um telefilme "de época", com a pretensão de desmascarar (?) todo um universo de pensamento.
"Le Redoutable" consegue mesmo a proeza de, com a água do banho, deitar fora as memórias de Maio 68. Dir-se-ia que nada mais se passou, a não ser a proliferação de um visual mais ou menos publicitário, desta vez "sancionado" pelos pensamentos do Presidente Mao — o que, convenhamos, não é totalmente estranho à herança temática e estética de Godard; com essa pequena diferença que separa um medíocre coleccionador de imagens de marca de um verdadeiro criador de formas.
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