20 Nov 2017 2:18
Quer na secção competitiva, quer extra-competição, a edição deste ano do LEFFEST inclui alguns títulos que deixaram marcas fortes no Festival de Cannes do passado mês de Maio. Vale a pena citar dois desses títulos (na competição), quanto mais não seja porque as suas singularidades os distinguiram como exemplos de linguagens que não cedem a qualquer facilidade digital, mantendo-se ligados à pulsação humana da matéria.
* FROST, de Sharunas Bartas
O lituano Sharunas Bartas não é um desconhecido dos cinéfilos portugueses — foi mesmo uma das grandes revelações do Fantasporto, em 1992, na respectiva ‘Semana dos Novos Realizadores’. Com este filme, apresentado na Quinzena dos Realizadores, ele faz o retrato interior de uma Europa a contas com as suas feridas mais íntimas. É uma espécie de narrativa "on the road", seguindo um casal de jovens lituanos que transportam ajuda humanitária, numa carrinha, a caminho da Ucrânia — a pouco e pouco, vão encontrando situações cada vez mais perturbantes (e violentas), como se todas as coordenadas geográficas e culturais se fossem dissipando. Dir-se-ia a metódica desagregação de qualquer ilusão utópica.
— Centro Olga Cadaval (dia 20, 18h00); Monumental (dia 21, 18h30)
* TESNOTA / Closeness, de Kantemir Balagov
Se há nomes que foram verdadeiras revelações, neste caso na secção "Un Certain Regard", o russo Kantemir Balagov foi um deles — e também a sua admirável actriz principal, Darya Zhovner. Através de um realismo metódico e obsessivo, apoiado num elaborado trabalho de direcção de actores, Balagov encena o crescendo trágico de uma situação vivida no norte do Cáucaso, em 1998, por uma família de raízes judaicas. Quando um dos filhos é raptado na véspera do seu casamento, a família enfrenta, afinal, as tensões de uma conjuntura em que a própria ideia de comunidade está ameaçada — para nós, espectadores da Europa ocidental, importa, mais do que nunca, estarmos atentos ao cinema que vem do Leste.