11 Jan 2016 23:06
Vale a pena recordar que a mitologia dos Globos de Ouro como "antecipação" dos Oscars é uma pobre mitologia… De facto, mesmo no plano meramente estatístico, os Globos estão longe de gerar os mesmos resultados — por exemplo, desde o ano 2000, sem esquecer as suas nomeações duplas ("drama" e "musical ou comédia"), os Globos apenas distinguiram oito vezes como melhor filme o mesmo título que viria a ganhar o Oscar máximo (sete vezes tal não aconteceu).
Ora, basta observar os resultados de algumas "guilds", a começar pela dos produtores, para observar que tais associações profissionais antecipam, de facto, com mais frequência os vencedores dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (este ano agendados para 28 de Fevereiro).
Dito isto, sublinhemos o facto de a 73ª edição dos prémios da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood ter sido uma cerimónia com algumas componentes emblemáticas:
— a boa performance de Ricky Gervais, sabendo superar a sua própria caricatura de apresentador "rebelde" (com um momento exemplar de mútua "provocação", com Mel Gibson).
— a clara evidência de "The Revenant: O Renascido" (estreia em Portugal a 21 de Janeiro), triunfando em três das categorias principais e transformando, desde já, Leonardo DiCaprio num dos nomes fortes desta temporada de prémios.
— a vitória de Brie Larson na categoria de melhor actriz/drama ("Room"), superando o aparente favoritismo de Saoirse Ronan ("Brooklyn") e de Cate Blanchett e Rooney Mara (ambas em "Carol").
— o reforço do prestígio de Aaron Sorkin — melhor argumento, por "Steve Jobs" — como um dos maiores argumentistas da história de Hollywood nas últimas décadas.
— a confirmação do poder da Pixar, com mais uma vitória na categoria de filme de animação ("Divertida-Mente"), de alguma maneira determinando as linhas de força de uma área de produção de tão grande importância financeira.
Curiosamente, o impacto de "The Revenant" não pode ser dissociado de uma certa nostalgia de Hollywood. Dir-se-ia que, ao consagrar assim um western tão próximo de uma certa sensibilidade criativa e política dos anos 60, a Associação de Imprensa Estrangeira reforça as saudades de um sistema de produção em que a organização por géneros (comédia, musical, policial, etc.) era nítida e sistemática.
O mesmo se pode dizer, aliás, do triunfo de Sylvester Stallone, no seu reencontro com a personagem de Rocky Balboa: ao arrebatar o Globo de Ouro de melhor actor secundário com "Creed – O Legado de Rocky", dir-se-ia que Stallone (re)emergiu como símbolo de um cinema mítico, habitado por heróis vindo do nada, de que ele foi um símbolo modelar. Convém, a propósito, não esquecer que 2016 é o ano em que se assinalam nada mais nada menos que 40 anos do lançamento do primeiro "Rocky".