23 Jan 2019 0:59
Quem vai ganhar os Óscares referentes à produção de 2018?…
Vale a pena não reduzirmos os prémios da Academia de Hollywood a um jogo de "profecias". Este ano, em particular, creio que importa sublinhar uma ideia tão simples quanto essencial, ideia que tem atravessado, não apenas a indústria cinematográfica, mas toda a vida política dos EUA. A saber: a defesa da diversidade, nos espaços profissionais e também em todas as acções que definem as dinâmicas sociais.
Podemos gostar "mais" ou gostar "menos" dos filmes escolhidos… Claro que sim: não estamos a falar de uma ciência exacta. E, como sempre, podemos também assinalar a ausência de títulos que gostaríamos que tivessem suscitado outra atenção, nem que fosse uma modesta nomeação "técnica" (por mim, o grande esquecido é o prodigioso "The Mule/Correio de Droga", de e com Clint Eastwood — estreia a 31 de janeiro).
O certo é que a lista de nomeações nos traz um leque de títulos e personalidades capaz de nos ajudar a compreender que aquilo que identificamos pela palavra "Hollywood" passou a ser, mais do que nunca, um novelo de opções e hipóteses em imprevisível reconversão.
Nessa perspectiva, aqui ficam cinco nomes que podem simbolizar os contrastes, porventura as contradições, dos Óscares a atribuir no dia 24 de Fevereiro:
* ALFONSO CUARÓN — Prossegue a "ocupação" de Hollywood pelos mexicanos. Um ano depois do triunfo de "A Forma da Água", de Guillermo del Toro, Cuarón está em todo o lado com o seu "Roma", até mesmo na categoria de melhor fotografia (também da sua responsabilidade). Dito de outro modo: a Netflix joga os seus trunfos no interior de Hollywood.
* SPIKE LEE — "Blackkklansman" é, por certo, uma das grandes proezas cinematográficas de 2018, impondo-se, desde já, para a história, como um filme crucial da era Trump. Por isso mesmo, convém não nos precipitarmos e recordar que a problematização dos dramas dos afro-americanos não é uma "invenção" recente — a longa-metragem de estreia de Spike Lee, "Os Bons Amantes", data de 1986 e, em boa verdade, depois disso, com continuado brilhantismo, ele não tem feito outra coisa.
* GLENN CLOSE — Celebração bizarra: a actriz de títulos tão emblemáticos como "Os Amigos de Alex" (1983), "Atracção Fatal" (1987) ou "Ligações Perigosas" (1988) pode vir a ganhar o seu primeiro Óscar com "A Mulher", afinal um rotineiro telefilme… Se tal acontecer, será à sétima nomeação. Houve quem precisasse de oito: Paul Newman, Al Pacino…
* PAWEL PAWLIKOWSKI — Desta vez, a categoria de melhor realizador tem três nomeados que não são naturais dos EUA: Pawlikowski é um deles (juntamente com Cuarón e o grego Yorgos Lanthimos, por "A Favorita"). A sua proeza é tanto mais assinalável quanto é obtida através de um filme a preto e branco (tal como "Roma"), aliás nomeado na categoria de melhor fotografia (idem).
* PAUL SCHRADER — Last, but not least… O argumentista de "Taxi Driver" (1976), também autor de filmes como "American Gigolo" (1980) ou "Mishima" (1985), surge nomeado na categoria de melhor argumento original, com "No Coração da Escuridão", dando assim alguma visibilidade a outro grande filme capaz de questionar a América de Donald Trump. Numa paisagem de permanentes contaminações de formas de produção (cinema+televisão+Internet), Schrader é a prova muito real de que continua a existir algum cinema que justifica o rótulo de independente.