24 Abr 2015 18:16
O filme inédito de Manoel de Oliveira, "Visita ou Memórias e Confissões", rodado em 1982 para ser mostrado publicamente só após a sua morte, vai ser exibido pela primeira vez dia 4 de maio, no Rivoli, no Porto, e numa sessão posterior, dia 5 de maio, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, em sessões marcadas para as 21h30.
O filme de 68 minutos foi realizado a partir de um texto da escritora Agustina Bessa-Luís, e tem vozes de Diogo Dória e Teresa Madruga.
"Visita ou Memórias e Confissões" permaneceu inédito durante mais de trinta anos, conservado e preservado nos cofres da Cinemateca Portuguesa, embora tivesse havido algumas "muito estritas exceções", respeitantes a exibições privadas.
Entre elas, conta-se uma projeção na Cinemateca em 1993, no contexto do Ciclo "Oliveira: O Culto e o Oculto", numa apresentação restrita, especialmente autorizada por Manoel de Oliveira.
A Cinemateca refere que o interdito de exibição mais alargada ao público manteve-se, "motivada por razões ligadas ao pudor envolvido na exposição autobiográfica".
No dia da morte do cineasta, José Manuel Costa, diretor da Cinemateca Portuguesa, revelou que o filme "começa por ser uma referência à casa onde vivia, que teve de deixar por vicissitudes da sua vida". "Tem um caráter pessoal que, devido a isso, ele pediu para só ser divulgado amplamente depois do seu falecimento", referiu José Manuel Costa.
Segundo o responsável, Manoel de Oliveira quis reservar a exibição para depois da morte, não porque quisesse ocultar qualquer facto, mas porque tem a ver com a vida dele. "É uma memória pessoal".
O filme foi rodado numa casa que Manoel de Oliveira construiu em 1939, com projecto de José Porto, e onde viveu quatro décadas, e que foi classificada como Imóvel de Interesse Público (IIP), pelo seu modernismo.
Manoel de Oliveira viveu nesta casa durante quatro décadas e constituiu ali a sua família – quatro filhos e sete netos. Viria a perdê-la após o 25 de Abril de 1974, na sequência de uma hipoteca para a remodelação da fábrica de malhas fundada pelo pai.
Antes de mudar para outra moradia, Oliveira registou as memórias da vida nessa casa em película. Agustina Bessa-Luís foi convidada pelo realizador a escrever um texto a que chamou "Visita". Oliveira acrescentou algumas reflexões sobre a casa e o tempo que lá viveu.
Assim nasceu o documentário "Visita ou Memória e Confissões" (1982), que o realizador decidiu que só seria revelado após a sua morte – até hoje, apenas um número limitado de membros da equipa de produção e de amigos próximos do realizador pôde ver o filme.
Manoel de Oliveira faleceu a 2 de abril, aos 106 anos, em sua casa, no Porto.