2 Fev 2023 21:48
O premiado cineasta iraniano Jafar Panahi, que está preso em Teerão há seis meses, diz ter iniciado uma greve de fome para protestar contra as condições da sua detenção, de acordo com uma declaração divulgada quinta-feira pela sua esposa.
Jafar Panahi, que viu os seus filmes premiados em vários festivais de cinema europeus, foi preso em julho mesmo antes do início da onda de protestos que abalou o regime iraniano desde Setembro.
Apesar das esperanças da sua libertação no mês passado, Jafar Pahani permanece detido na prisão de Evin, em Teerão.
"Hoje, como muitas pessoas presas no Irão, não tenho outra escolha senão protestar contra este comportamento desumano com aquilo que mais prezo: a minha vida", disse ele. "Recusar-me-ei a comer, beber e tomar qualquer medicamento até ser libertado", disse o cineasta, que terá começado a greve de fome a 1 de Fevereiro.
"Vou permanecer neste estado talvez até que o meu corpo sem vida seja libertado da prisão", acrescentou.
Jafar Pahani, 62 anos, foi preso a 11 de julho e forçado a cumprir uma pena de seis anos de prisão pronunciada em 2010 por "propaganda contra o sistema".
A 15 de Outubro, o Supremo Tribunal anulou a condenação e ordenou um novo julgamento, suscitando entre os seus advogados a esperança de que ele seria libertado.
Jafar Panahi ganhou um Leão de Ouro no Festival de Veneza em 2000 pelo filme "The Circle". Em 2015, foi galardoado com um Urso de Ouro em Berlim por "Táxi" e, em 2018, ganhou o prémio de melhor argumento por "Three Faces", no Festival de Cinema de Cannes.
No Twitter, a o festival francês "reafirma o seu total apoio, apelando, como muitos artistas, festivais e organizações em todo o mundo, para a sua libertação imediata".
"Este grito de liberdade obriga-nos colectivamente", disseram a ARP e a SRF, dois colectivos de cineastas franceses.
"Estamos solidários com os iranianos que lutam pelos seus direitos, condenamos esta detenção e apelamos à sua libertação", escreveu o Festival Internacional de Cinema de Berlim no Twitter.
O último filme de Jafar Panahi, "Ursos Não Há", foi exibido em 2022 no Festival de Veneza quando o realizador já se encontrava na prisão. O filme ganhou o prémio especial do júri.
Personalidades do cinema estão entre os milhares de presos no Irão como parte da repressão aos protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, uma jovem curda iraniana presa por, alegadamente, infringir o rigoroso código de vestuário imposto às mulheres.
A actriz Taraneh Alidoosti, que divulgou imagens suas sem véu islâmico, foi libertada no início de janeiro, após quase três semanas de detenção.
Num sinal dos perigos enfrentados pelos grevistas da fome, activistas dos direitos humanos divulgaram quinta-feira fotos do corpo emaciado do activista e médico Farhad Meysami, condenado a cinco anos de prisão e que se recusa a comer.
"Esta imagem dolorosa é um símbolo da luta não violenta do povo iraniano para obter os direitos humanos básicos", disse Mahmood Amiry Moghaddam, director da ONG Iran Human Rights, com sede em Novaya, afirmando que Meysami está em greve de fome desde outubro.