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Jane Birkin
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, 1946-2023
16 Jul 2023
Era a inglesa preferida de França, um ícone da moda e uma voz com um sotaque encantador. Jane Birkin morreu aos 76 anos, encontrada sem vida em Paris, no domingo, depois de ter deixado a sua marca no mundo da música e do cinema.
A notícia, dada pelo diário Le Parisien e pelo canal BFMTV, foi confirmada à AFP por uma fonte próxima do caso.
“Porque encarnava a liberdade, porque cantava as mais belas palavras da nossa língua, Jane Birkin era um ícone francês”, escreveu o Presidente Emmanuel Macron no Twitter.
A cantora nascida em Londres e naturalizada francesa, cujo nome está indissociavelmente ligado ao de Serge Gainsbourg, tinha assinalado recentemente problemas de saúde que a obrigaram a cancelar concertos.
Em fevereiro, apareceu debilitada na cerimónia dos César, os prémios do cinema francês, ao lado da filha, a atriz e cantora Charlotte Gainsbourg, e da neta Alice.
Jane Birkin teve sucesso mundial com canções como “Je t’aime… moi non plus”, um dueto com Gainsbourg em 1969 que causou escândalo, “Jane B” no mesmo ano e “Ex-fan des sixties” em 1978.
O público adorava-a pela sensibilidade, acentuada pelo delicado sotaque britânico que manteve durante toda a vida.
“Há celebridades sobre as quais pensamos ‘oh, provavelmente não vão estar connosco durante muito tempo’. Eu esperava que Jane Birkin ainda estivesse cá”, disse à AFP Jenny Hunt, costureira à porta da casa da rue de Verneuil onde Jane Birkin viveu com Gainsbourg.
“É inimaginável viver num mundo sem a tua luz”, escreveu no Instagram o cantor Étienne Daho, que co-compôs o seu último álbum, “Oh, pardon tu dormais…” (2020).
“Quando se é assim tão bonita, tão fresca, tão espontânea, com a voz de uma criança, não se tem o direito de morrer”, declarou a atriz Brigitte Bardot num comunicado enviado à AFP, saudando uma artista “eterna nos nossos corações”.
Françoise Hardy, que “pensa nas suas filhas e na sua família, que significavam tudo para ela”, declarou na RTL: “Estou muito afetada”.
O mundo da moda também prestou homenagem no domingo à memória da mulher que deu nome a uma bolsa Hermès. “Perdemos uma querida amiga (…) uma artista por direito próprio, empenhada, aberta e curiosa”, escreveu o grupo num comunicado.
O estilista da Balmain, Olivier Rousteing, falou da morte de um “ícone”, cujo estilo alternava entre o boémio chique e os trajes sensuais e que era uma fonte de inspiração.
No cinema, Jane Birkin participou no filme de Antonioni “Blow up”, que ganhou a Palma de Ouro em 1967, e depois em “La Piscine” com Romy Schneider e Alain Delon em 1969, antes de se afirmar com realizadores como Agnès Varda, Michel Deville e Bertrand Tavernier.
A sua relação com Gainsbourg, que conheceu num plateau de cinema em 1968, foi decisiva. O casal tornou-se uma dupla lendária na Paris dos anos setenta, combinando paixão, glamour e escândalo.
Cansada dos excessos de Serge, Jane fugiu do apartamento em 1981 com as filhas Kate (do seu casamento com John Barry) e Charlotte, e começou uma nova vida com o cineasta Jacques Doillon.
A sua filha Lou Doillon foi vista no domingo à tarde a ir para o apartamento onde a estrela morreu.
Uma mulher empenhada
Muito depois da morte de Gainsbourg em 1991, e apesar de várias dificuldades, incluindo a morte súbita da filha Kate Barry em 2013 e uma longa batalha contra a leucemia, Jane Birkin continuou a cantar a obra de Serge.
Jane Birkin recebeu a Ordem do Império Britânico e, em França, a Ordem das Artes e das Letras. No entanto, recusou a Légion d’honneur em 1989, por considerar que “só os heróis” a deviam receber, heróis à semelhança do seu pai, David, um oficial da Marinha Real que transportou combatentes da Resistência da Grã-Bretanha para França durante a Segunda Guerra Mundial.
“Hoje, perdemos um ícone total, cujo sotaque sabia sussurrar os hinos de uma época e defender os seus compromissos na cena internacional: a solidariedade, o acolhimento dos migrantes, a luta contra a extrema-direita, a liberdade”, saudou a ministra francesa da Cultura, Rima Abdul Malak.
Segundo uma fonte policial, Jane Birkin foi encontrada morta às 11h40 por uma cuidadora que se deslocou a sua casa. Na ausência de elementos suspeitos no corpo ou no apartamento, não deverá haver qualquer investigação judicial.