25 Jul 2024
Um colégio interno que recebe estudantes de famílias endinheiradas de várias partes do mundo, é o cenário escolhido pela realizadora austríaca, Jessica Hausner para “Clube Zero”.
Uma sátira sobre os desafios da educação e os perigos da manipulação a que estão sujeitos os adolescentes.
Mia Wasikowska, comanda um elenco de jovens atores desconhecidos. É uma professora de nutrição que leva longe de mais a premissa de comer de forma consciente.
Jessica Hausner coloca no mesmo plano, ideias de sustentabilidade do planeta, a começar pela alimentação, com comportamentos radicais e perigosos, desenvolvidos como se fossem verdades absolutas:
“O que me interessava neste filme era a questão da manipulação. A professora Novak está a dizer coisas aos alunos, que no início parecem interessantes. As aulas sobre comer com consciência, são boas até certo ponto. Comer devagar, escolher bem, saber de onde vem a comida. São ideias que me interessam. Mas leva isso muito mais longe. E o filme é sobre isso. Por que é que aqueles miúdos querem ir atrás dela? E por que se radicalizam?”
“Acho que aqueles miúdos são deixados sozinhos, não estão a ser acompanhados.“
Os miúdos começam por seguir uma dieta rígida até serem encorajados a deixarem de comer por completo, para pertencerem ao clube zero. No filme, os pais e a hierarquia da escola, permitem a criação de uma elite, mesmo sem provas de que as práticas ensinadas naquelas aulas de nutrição sejam corretas, ou sequer saudáveis:
“Acho que aqueles miúdos são deixados sozinhos, não estão a ser acompanhados. É como se os adultos que os rodeiam não os vissem. No início querem salvar o planeta, mas como é que isso se faz? É aí que tudo se complicam. Tornam-se muito radicais, e sabemos que isso é errado. Mas qual é a alternativa? É muito contraditório e uma situação complicada. Mas é daí que vem o tom do filme. Às vezes um pouco trágico e outras estranhamente, engraçado.”
Entre a tragédia e a comédia, o lugar de Jessica Hausner no cinema é o de questionar temas que afrontam as sociedades do nosso tempo, como aconteceu no filme anterior, “A Flor da Felicidade”, em que alguém procurava numa planta as soluções para uma vida mais preenchida.
Agora, em “Clube Zero”, os adolescentes seguem à risca uma dieta que pode ser fatal, enquanto à sua volta, todos parecem demasiado entretidos com as suas vidas:
“Nos meus filmes as personagens são arquétipos, é como se fosse um conto de fadas. Personagens simples, mas que representam algo, ou determinadas camadas sociais. Há a diretora, os professores, os pais. Vários grupos da nossa sociedade estão representados no filme.”
Jessica Hausner volta a apostar numa estética muito particular, que assume contornos irrealistas. Há uma intenção clara de reproduzir visualmente os contornos da história:
“As imagens têm a sua própria linguagem. É diferente dizer algo com palavras, ou com imagens. Prefiro as imagens, porque dizem algo por elas próprias. As cores, a composição, o modo como focamos uma imagem, é já uma história. Depois, há personagens e diálogos para contar o resto. Mas para mim, a parte visual e o tom do filme é que facto contam a história.”
Por vezes absurdo, outras vezes simplesmente ácido, “Clube Zero” ridiculariza a informação que inunda a Internet sobre formas de vidas alternativas através da luz solar, ou de dietas que carecem de prova científica, em nome de uma existência sustentável que poupa os recursos do planeta. Ao mesmo tempo, é um olhar critico levado ao extremo, sobre a educação e a atenção que dispensamos às gerações mais jovens:
“Não devia ser uma questão individual. O que quero destacar neste filme, é que este é um assunto de toda a sociedade. De forma geral, acho que não está bem definido quem deve cuidar das nossas crianças, o que temos de mais valioso. Devíamos dar valor aos que cuidam e aos professores. Devíamos pagar-lhes muito bem e estimá-los. “Clube Zero” é talvez sobre pais que perderam o momento em que podiam ajudar os filhos.”
Os pais, quase ausentes, ou ridicularizados, na história de “Clube Zero”, são um dos alvos identificados por Jessica Hausner. O filme é uma sátira que se desenvolve a partir do que os jovens imaginam que seja a sua missão para serem bem sucedidos, integrados num grupo, ou simplesmente para salvar o planeta.