16 Mai 2023 23:32
Johnny Depp foi calorosamente recebido entre as grandes estrelas como Uma Thurman, Michael Douglas e Catherine Deneuve que abriram o Festival de Cinema de Cannes na noite de terça-feira, apesar das críticas das feministas sobre a reabilitação da controversa personalidade.
De fato escuro, cabelo apanhado e óculos escuros, o antigo “Pirata das Caraíbas”, proibido de entrar nos locais de filmagem americanos desde os julgamentos que o opuseram à sua ex-mulher Amber Heard por acusações de violência doméstica, voltou à ribalta.
Longe das imagens do processo e dos seus inúmeros enredos, bem como das acusações de violência que não foram julgadas e que ele nega, Depp tirou selfies e deu autógrafos na passadeira vermelha, antes de assistir à cerimónia de abertura conduzida pela actriz Chiara Mastroianni, ao lado de Maïwenn.
A actriz e realizadora francesa escolheu-o para interpretar Luís XV no filme “Jeanne du Barry”, escolhido pela organização do Festival para abrir o festival. Um privilégio que provocou a indignação das feministas.
Várias organizações feministas manifestaram o seu repúdio na terça-feira, com Osez le Féminisme a apelar mesmo ao boicote do festival. “O sentimento de impunidade que emerge (da escolha deste filme para a abertura) é arrepiante”, denunciaram vários grupos como 50/50, Women of Cinema Lab e 1.000 Faces.
Actores e actrizes franceses, entre os quais Julie Gayet e Laure Calamy, também se pronunciaram num artigo publicado no jornal Libération, criticando um Festival de Cannes que estende “a passadeira vermelha a homens e mulheres que agridem”, em referência a Johnny Depp e Maïwenn. Esta última agrediu recentemente o fundador do site de notícias Mediapart, Edwy Plenel, num restaurante.
“O festival envia a mensagem de que (…) a violência é aceitável nos locais de criação artística”, acrescentam num texto também assinado por Swann Arlaud (que integra o elenco de “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet, um dos filmes em competição).
Seis anos após o início do movimento #MeToo, parece estar em curso um lento reequilíbrio de género numa indústria sempre dominada por homens. O próprio festival tem um júri equilibrado em termos de género (excluindo o presidente) e este ano há um recorde de sete realizadoras na corrida à Palma de Ouro, de um total de 21 filmes em competição.
Questionada numa conferência de imprensa sobre a presença de Johnny Depp, a actriz Brie Larson, membro do júri, esquivou-se à pergunta. Empenhada no movimento #MeToo, destacou-se em 2017 nos Óscares ao recusar aplaudir o actor Casey Affleck, acusado de assédio sexual.
do Festival, com o tradicional desfile de estrelas, embora menos
concorrido do que na edição de aniversário do ano passado.
participa no novo “Indiana Jones”, e Pierre Richard, que abrilhanta o
elenco do filme de Maïwenn.
“Significa muito para mim, porque há centenas de festivais de cinema no mundo, mas só há um em Cannes (…) É uma honra incrível”, disse.
“Estou a ficar mais velho”, brincou o actor americano de 78 anos. Olhando para trás, para os meus 55 anos (de carreira), pergunto-me como aguentei tanto tempo”, comentou acrescentando que o festival “recorda-nos (…) que o cinema ultrapassa os limites e une as fronteiras”.
“A Cannes e a toda a França, gostaria de abraçar com todo o meu coração”, concluiu em francês, antes de a actriz americana Uma Thurman lhe entregar o prémio apelidando Douglas de “estrela de cinema eterna” e “artista luminoso”.