9 Jul 2021 1:47
Como muitos outros filmes contemporâneos, "Lingui", representante do Chade na competição oficial de Cannes, é um objecto profundamente limitado pelos seus "encargos" ideológicos. Estamos, afinal, perante a história de um jovem de 15 anos que quer pôr termo à gravidez que, durante algum tempo escondeu da mãe; acontece que a comunidade muçulmana em que vivem interdita o aborto…
Para encenar este quadro dramático, o realizador Mahamat-Saleh Haroun, também responsável pelo argumento, convoca os "laços sagrados" a que se refere o título original (em França, o filme será lançado como "Les Liens Sacrés"): em causa está a cumplicidade interna da família, factor que o filme vai transfigurando numa estratégia de afirmação das personagens femininas.
Claro que estamos perante um cinema de boas intenções, apontando formas ancestrais de marginalização e repressão — seja como for, no plano da dramaturgia, tudo isso é reduzido a uma formatação dramática com tanto de esquemático como de redundante. É pena que assim aconteça porque, pelo menos, no modo como filma as casas e as ruas daquela comunidade Haroun revela uma atenção ao detalhe realista que poderia ter sustentando outro tipo de narrativa e, seguramente, um filme mais interessante.