10 Abr 2020 18:51
Luís Noronha da Costa, um dos nomes maiores da pintura portuguesa da segunda metade do século XX, faleceu no dia 9 de Abril, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, após doença prolongada — contava 77 anos.
Na história moderna da arte em Portugal (ou na história da arte moderna em Portugal), Noronha da Costa foi um dos criadores apostados em enfrentar e, de algum modo, desafiar todas as ambivalências das imagens, encarando a tela como o mais enigmático dos ecrãs — um verdadeiro palco de amostragem e ocultação [pintura: 1969, S/Título].
Daí o seu apaixonado interesse pelo cinema, por excelência uma arte de ecrã(s). Não poucas vezes, deu conta da importância da obra de Jean-Luc Godard no desenvolvimento do seu próprio trabalho, mantendo também uma entusiástica atenção à filmografia do inglês Terence Fisher (1904-1980), descobrindo nos seus filmes de terror aquilo que talvez possamos designar como um requiem romântico.
O legado cinematográfico de Noronha da Costa envolve, antes do mais, as curtas-metragens que realizou: "Karl-Martin" (1974), "D. Jaime ou a Noite Portuguesa" (1974) e "O Construtor de Anjos" (1978). Esta última, em particular, cruzando um certo romanesco de raiz literária com o apelo fantástico, foi recordada na edição de 2012 do LEFFEST, que organizou no Centro de Congressos do Estoril uma exposição de quadros do autor [video da inauguração].
Noronha da Costa assinou também algumas notáveis intervenções críticas sobre cinema. Vale a pena destacar o seu ensaio "Notas dispersas sobre ‘Hitler, um Filme da Alemanha’, de Syberberg, e questões relacionadas com o cinema" (publicado no nº 45 da revista "Colóquio Artes", de Junho de 1980, editada pela Fundação Gulbenkian) — em Setembro de 1979, o filme tinha sido o acontecimento central do Festival da Figueira da Foz.
Em 2003, a obra de Noronha da Costa foi objecto de uma grande exposição retrospectiva no Centro Cultural de Belém [video: reportagem de João Almeida/SIC].