Jack Nance em

5 Set 2017 21:52

O regresso da série "Twin Peaks" teve um efeito peculiar — chamemos-lhe mesmo um efeito cinéfilo —, em particular no conhecimento da obra de David Lynch pelos espectadores mais jovens. Acima de tudo, importa lembrar que Lynch nasceu para o cinema como uma espécie de experimentador, ainda em ambiente universitário, precisamente com o seu primeiro título: "Eraserhead".

A história de "Eraserhead" envolve cabeças voadoras e um monstro carente de amor — enfim, estamos perante um delírio surreal, vagamente inspirado em matrizes do cinema de terror e da ficção científica. David Lynch mostrava-se um cineasta pouco interessado em contar uma história à maneira tradicional, apostando antes em criar uma ambiência onírica em que o espectador é levado a questionar a sua própria visão do mundo. "Eraserhead" surgiu em 1977; ironicamente, três anos mais tarde, portanto em 1980, assinou o seu filme mais clássico — falamos, claro, desse fascinante objecto de cinema que é "O Homem Elefante".



Situado em plena época vitoriana, "O Homem Elefante" centra-se na personagem de um homem terrivelmente desfigurado que é também, afinal, um exemplo invulgar de sensibilidade. Para David Lynch, a figura monstruosa do protagonista não exclui, antes pelo contrário, a dimensão humanista. Mas o cineasta que dirigiu "O Homem Elefante" é também capaz de contemplar os enigmas da poesia ou, se assim nos podemos exprimir, os mistérios do veludo.



Quem canta é Isabella Rossellini — "Blue Velvet", lançado em 1986, é talvez o mais emblemático objecto de culto de toda a filmografia de David Lynch: um melodrama transfigurado em fábula de todos os assombramentos. E, claro, com a música a pontuar todas essas atribulações. No limite, esse negrume pode cruzar-se com a energia do rock’n’roll. Assim acontecia em "Um Coração Selvagem", o filme que valeu uma Palma de Ouro, em Cannes, no ano de 1990 — aí escutávamos “Wicked Game”, na voz inconfundível de Chris Isaak.

  • cinemaxeditor
  • 5 Set 2017 21:52

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