9 Set 2022 12:02
Ana de Armas electrizou o Festival de Veneza esta quinta-feira como Marilyn Monroe em "Blonde", uma biografia imaginada da maior estrela da história do cinema.
O filme exala o brilho que sempre rodeou o ícone da cultura popular que morreu aos 36 anos, para oferecer um retrato em tons de pesadelo de uma artista esmagada pelo sistema machista em vigor em Hollywood e na América dos anos Kennedy.
O próprio JFK, com quem a actriz teve um caso pouco antes da sua morte, cai do pedestal. Retratado como um predador em busca de carne fresca.
Norma Jeane (o verdadeiro nome da atriz) aparece como uma mulher frágil, abusada pelos homens, incluindo os ex-maridos, a estrela de basebol Joe DiMaggio (Bobby Cannavale) que costumava bater-lhe e o dramaturgo Arthur Miller (Adrien Brody) que parece desprezá-la.
Do ponto de vista psicológico, o filme Corre o risco de quase ignorar a força e a vontade de ferro de Marilyn no trabalho para evocar a infância despedaçada por uma mãe abusiva, a busca não resolvida por um pai e o desejo ambivalente e frustrado de maternidade.
Em ascensão desde a chegada aos Estados Unidos há 15 anos, a cubana Ana de Armas encontra neste filme o papel da sua vida. "Se puseres de lado a estrela, ela era uma mulher como eu, da mesma idade, também actriz na indústria cinematográfica", disse em Veneza.
"Tive de ir a lugares em mim que sabia serem desconfortáveis, escuros e vulneráveis, e foi aí que encontrei a ligação com esta pessoa", acrescentou a atriz que pesquisou exaustivamente e trabalhou vários meses na dicção para apagar o sotaque e aproximar-se de Marilyn.
A preocupação pelo realismo foi levada ao ponto de filmar na própria casa onde Norma Jeane cresceu, antes do orfanato, e na casa onde o seu corpo foi encontrado. O filme não tenta esclarecer as circunstâncias da morte.
"As suas cinzas estão por toda a Los Angeles", lembra o realizador Andrew Dominik que trabalhou no filme durante dez anos, enfrentando numerosas rejeições até que a Netflix, concordasse em abrir a carteira para este ambicioso projecto.
Com uma direcção virtuosa e alternando entre preto e branco e cor, o filme multiplica alusões a numerosos clichés famosos para recriar fielmente o mundo de Marilyn Monroe, complementado por uma banda sonora confiada aos roqueiros Warren Ellis e Nick Cave, amigos do realizador.
Exibido numa sessão de gala em Veneza, onde compete pelo Leão de Ouro, o filme não será então lançado nas salas de cinema. A Netflix irá colocá-lo directamente online para os seus 220 milhões de assinantes, a 28 de Setembro. A recepção desse público é um teste para a plataforma e para o Festival de Veneza que, ao contrário de Cannes, abre as portas de par em par às produções do streaming.