16 Mai 2024

É o filme mais aguardado do Festival de Cannes: 45 anos depois de ter ganho a Palma de Ouro com “Apocalypse Now”, Francis Ford Coppola disputa um terceiro troféu com “Megalopolis”, um filme fora do comum, com sabor a testamento, onde investiu parte da sua fortuna.

Com um orçamento de 120 milhões de dólares, o filme sobre a destruição de uma cidade que faz lembrar Nova Iorque está na sua mente há mais de quarenta anos. Coppola abandonou o projeto após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, antes de o retomar.

“Quando é que acaba um império? Será que se desmorona num momento terrível?“, pergunta a voz off do trailer.

Apresentado como um filme de ficção científica, exibido num ecrã IMAX, “Megalopolis” desenrola-se em torno da destruição de uma megalópole e da sua reconstrução, que se decide entre um arquiteto (Adam Driver) e o presidente da câmara (Giancarlo Esposito).

É um filme sobre “um homem que tem uma visão do futuro” e fala do “conflito” entre essa visão e as “tradições do passado”, confidenciou Coppola em 2019, no Festival Lumière, onde foi homenageado. “Diria que é o meu filme mais ambicioso, ainda mais ambicioso do que Apocalypse Now”.

É o que basta para fazer salivar os cinéfilos de todo o mundo, tão apaixonados pelos seus filmes como pelas rodagens epopeicas, a começar pela de “Apocalypse Now”, que deveria ter durado algumas semanas, mas acabou por prolongar-se até aos 238 dias.

A isto juntaram-se as crises de paranoia de Coppola, que se viciou em drogas, perdeu cerca de quarenta quilos e teve de hipotecar o seu património para financiar o filme sobre a guerra no Vietname, inspirado no livro “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad. Na altura, o orçamento inicial de 13 milhões de dólares subiu para 30 milhões, levando-o à beira da ruína.

“Um cabeça quente”

“Coppola é um cabeça quente”, diz Tim Gray, experiente jornalista de cinema nos Estados Unidos, que trabalha atualmente para os Globos de Ouro. Sempre “correu riscos enormes. E a sua carreira desafia a lógica”, disse recentemente à AFP.

O gigante do cinema referiu também o desejo de filmar uma história de amor “antes de partir”. E assim é, com o casal formado por Adam Driver e Nathalie Emmanuel (“Game of Thrones”) em “Megalopolis”.

Em torno deles, giram várias personagens interpretadas por atores lendários dos anos 70, como Jon Voight e Dustin Hoffman.

“Todos esperavam que Francis Ford Coppola continuasse a fazer filmes. Sabíamos que tinha decidido fazer este filme e financiá-lo com o próprio dinheiro”, disse Thierry Frémaux, delegado geral de Cannes, antes do início do Festival, na segunda-feira.

“Acho admirável que este homem de 85 anos se comporte como um cineasta independente, como um artista que quer vir mostrar o seu trabalho. Cannes é importante para ele e ele é importante para Cannes”.

Será um filme-testamento brilhante, ou uma obra artística extravagante? A imprensa está cheia de previsões e acaba de publicar relatos de membros da equipa de produção sobre uma rodagem caótica.

O realizador da trilogia “O Padrinho” não dirigia uma longa-metragem desde “Twixt”, lançado em 2011, e parecia entregar-se à sua outra paixão, o vinho, já que é proprietário de várias vinhas.

Este projeto é dedicado a Eleanor, a mulher com quem esteve casado durante sessenta anos e que morreu a 12 de abril.

“Megalopolis” terá estreia mundial esta quinta-feira, em Cannes.

  • António Quintas
  • 16 Mai 2024 17:15

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