“Moon o Panda”: o menino, o urso e a família
O filme do realizador francês Gilles de Maistre viaja à China, onde um encontro improvável entre um rapaz de 12 anos e um urso-panda selvagem cura feridas familiares e recorda a beleza esquecida da natureza.
“Moon o Panda” leva-nos numa viagem até à China. É a história de um menino de 12 anos que vai conhecer um urso panda e esse encontro vai trazer-lhe um sentido para a vida.
O realizador francês Gilles de Maistre escreveu o argumento em parceria com a mulher, Prune de Maistre. Imaginaram uma história de família:
O urso panda, na verdade, serve como um guia destas histórias. São histórias humanas, cada criança que for ver o filme, cada família, vai identificar-se. Vão identificar-se com esta família, com todos os problemas que existem, na escola, os exageros com os videojogos, etc. Enfim, mostra muitas das preocupações dos pais e muitas das frustrações das crianças.
No filme, a criança vai descobrir outro mundo, graças a esse panda e à avó chinesa, que é uma avó um pouco mágica. É a avó que todos sonhamos ter. Ele vai encontrar uma paixão nos pandas e isso vai abri-lo para o mundo. É isso que tentamos contar.
Tenho seis filhos e, com a minha mulher, que escreve os guiões, é o que tentamos falar com os nossos filhos também.
O filme é a história da amizade entre Tian e um urso. É um feliz encontro que se dá quando vai de férias com a família para a China, o país de origem do pai. Gilles de Maistre considera que o panda é o elo de união, o elemento unificador:
O panda pode ser o nosso guia para entrar no mundo maravilhoso que é a natureza que nos rodeia e que muitas vezes nos esquecemos de ver. Este menino, o Tian, não vê mais nada à volta. Não liga à escola, está prestes a reprovar, está em conflito com o pai, que é muito severo. Ele é infeliz, só ocupa o tempo com os videojogos e, de repente, encontra este panda selvagem. Então, vai entender que há outras coisas na vida. Podemos ver um pássaro voar, as nuvens, as árvores e o panda vai representar isso. Vai fazer com que ele e toda a família se unam e passem a ver a beleza do mundo.
Houve logo empatia entre o ator Noé Liu Martane, que tem o papel de Tian, e o urso panda. A cumplicidade entre ambos, revela-se no filme, diz o realizador:
Há muito respeito pelos animais. O menino que interpreta o papel de Tian criou essa relação muito rapidamente com o panda, o que resultou em imagens incríveis entre os dois, embora tenha sido complicado de filmar. A relação entre ambos também influenciou a qualidade das imagens.
Acho que não se irão repetir, porque não acredito que os chineses autorizem fazer mais filmes com pandas.
O pai e a irmã do jovem ator Noé Liu Martane também entram no filme. O papel da mãe é da atriz francesa Alexandra Lamy.
Grande parte do elenco é constituído por atores chineses. Gilles de Maistre reúne no filme elementos da mesma família:
Como argumento era fantástico. Tinha os pandas, então a mãe de Noé aceitou que ele pudesse atuar. Ele tinha na época 12 anos. Um menino incrível, com família de artistas chineses.
A mãe é cantora e o pai é ator. Os atores chineses são financeiramente inacessíveis para um filme francês. Então eu perguntei ao pai de Noé se não queria representar o pai no filme. E aceitou a oportunidade inesperada de entrar num filme com o filho. Depois, propôs que a filha fizesse o papel da irmã. Assim, no filme, junto o verdadeiro pai com os dois filhos reais e como qualquer família também têm problemas semelhantes aos do filme. Em particular foi muito forte emocionalmente para o miúdo, pois além de interagir com o panda está no filme como é na vida real.
O filme “Moon o Panda” segue a tradição de cinema do realizador Gilles de Maistre. Gosta de fazer filmes com animais. A ideia de contar uma história com um panda surgiu numa deslocação do cineasta à China:
É complicado filmar na China, é verdade. Há 7 ou 8 anos, quando “Mia e o Leão Branco”, um filme que fiz na África do Sul com um leão e uma menina, foi lançado na China, fui lá promover o filme. Pensei que seria divertido fazer um filme com um panda. Falei sobre isso com os chineses que me receberam e a ideia soou bem. Em França, a produtora cinematográfica Gaumont também tinha interesse em fazer este filme com um panda. Então conversámos e decidimos fazer o filme. Demorámos 5 anos para o conseguir.
É complexo porque não havia filmes de ficção com humanos e pandas há pelo menos 20 anos porque agora é proibido interagir. Foi como um milagre os chineses terem aceitado, mas levou muito, muito tempo para convencê-los. As relações entre a França e a China e o facto de os chineses quererem fazer coproduções internacionais foram motivos que ajudaram.
Por outro lado, o panda é o símbolo da China. É um tesouro nacional. Um filme com um panda iria permitir falar também sobre a China.
A experiência do cineasta francês na realização de filmes com animais ajudou no relacionamento com os pandas e com os treinadores:
O panda é um animal bastante pacífico, mas mesmo assim é um urso. Tem garras de 10 centímetros de comprimento, dentes afiados, é muito forte, sobe a árvores e pega em 100 quilos, sem esforço algum. Tem uma força enorme.
Os chineses estavam muito cautelosos e assustados. Mas como estou habituado a trabalhar com animais selvagens muito complicados, foi mais fácil. Já fiz um filme com um jaguar, com um leão, com um lobo. Sei lidar com tudo isso. A minha abordagem de uma forma bastante descontraída tranquilizou os chineses. Mas nas duas primeiras horas de filmagem os treinadores chineses pensavam que os pandas estavam um pouco nervosos.
Quando viram como estávamos relaxados, como respeitávamos o ritmo dos pandas e como a criança estava à vontade, relaxaram e as filmagens correram muito bem. Porque, no fundo, projetamos isso nos animais. Quando estamos relaxados sabemos o que estamos a fazer e respeitamos a natureza. Os animais sentem isso. Gostam dessa rotina e colaboram.
O urso-panda é visto como um símbolo da China e também está associado à ternura e ao carinho. Para Gilles de Maistre, “Moon o Panda” é um filme que vai cativar:
A simbologia do panda é algo presente no inconsciente coletivo humano. Muito forte e que transmite uma sensação de paz. Uma sensação de felicidade. É um animal muito feliz que come, dorme e brinca. Portanto, é realmente o ideal para nós os protegermos. É um animal que as pessoas gostam muito. Há muitos fãs de pandas em todo o mundo.
